01/05/2007 17h22
Livro: Ui!
UI!
Autora: Rosa Pena

Editora: Selo .TXT - Bagatelas!

ISBN: 978-85-7718-070-7

Resenha



Fui apresentado ao texto de Rosa Pena e gostei do que li. E li de um fôlego só, da primeira a última folha, vidrado!



Mesmo contrariando o filósofo italiano Benedetto Croce (1866-1952) que dizia que “este negócio de ficar classificando gênero literário fora uma acumulação de equívocos: uma obra é sempre uma individualidade inclassificável”, me arrisco a dizer que o texto de Rosa Pena nos revela uma cronista, e das boas. A forma íntima e o frescor dos relatos, como que acontecidos há poucos dias, ou mesmo há curtas horas me faz dizer: são crônicas do nosso tempo, dos dias vividos por ela, Rosa.



A crônica é uma foto, um instante do nosso mundo real registrado e eternizado. Muitos acreditam que uma das características da crônica é ser efêmera. Ledo engano. Fica nos jornais, nos livros, em nossa memória e ao ser resgatada nos faz entender uma época. Os modos de vestir, de se comportar, de dizer e de desdizer, enfim, de como se viveu. De que melhor forma compreender o dia-a-dia nos tempos do Alencar ou do Machado que não pelas crônicas escritas por eles?



E lá vai Rosa, a cada linha nos trazendo para a realidade, nos colocando no chão, nos emocionando, nos fazendo rir e, não satisfeita, ainda faz poesia: “- Acorda mulher! Não existe Papai Noel! Pasárgada era sonho do Manuel”. Esta Escritora (com E maiúsculo), sabe das coisas!



Para finalizar me socorro neste belo texto de Antonio Candido escrito em 1981 que resume bem o poder da crônica. Dizia o mestre: “…E para muitos pode servir de caminho não apenas para vida, que ela serve de perto, mas para a literatura. Por meio dos assuntos, da composição aparentemente solta, do ar de coisa sem necessidade que costuma assumir, ela se ajusta à sensibilidade de todo dia. Principalmente porque elabora uma linguagem que fala de perto ao nosso modo de ser mais natural. Na sua despretensão, humaniza”.



Portanto: Viva Rosa Pena! Viva!



Jucá Soares
Crítico literário e livreiro especialista em obras raras

robsonjuca@hotmail.com



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Publicado por Rosa Pena em 01/05/2007 às 17h22
 
24/04/2007 18h48
Nada com nada
Rosa Pena



Nem percebi que o lampião apagou!
Já era manhã.

Quando aprendo a letra
acompanho a melodia.

Não sou leão
mas a vara curta
me cutuca.

Morador de rua não compra sabão
não tem louça nem pia.
Pra que abrir a caixa,
se ela está sem alegria?

Estou maluca
ou baixou nostalgia?
Vã filosofia...
O mesmo que te elogia
sonega a tua poesia.
Promessas não cumpridas dão azia.
Melhor baixar em outra freguesia.

Almodóvar eu vou!
Quando eu voltar
vou saber a quem me doar.
Mataram a útil inocente.
Também sei passar o pente
Hora de embarcar
que atrás vem gente.

Esquecer as mutretas.
Lá vou eu sem falseta.
Meu Romeu
é verdadeiro
e adora essa Julieta.

É tempo de ficar contente.



Publicado por Rosa Pena em 24/04/2007 às 18h48
 
19/04/2007 19h53
DESODARA
Rosa Pena



Lá onde moro agora
(antes)
morou gente
de vida diferente.

Pelados dançavam
pintavam a cara.
O arroio de água pura
brotava da terra.
Andavam a pé
Sem CPF o pajé.
Das plantas vinha a cura.

O mundo era Odara!


Lá onde moro agora
o cidadão se esconde atrás
das parede de cimentos:
—Passa a grana
Mãos ao alto!
O céu avermelhado e cinzento
reflete o asfalto sangrento.
O sol não nasce
nem se põem.
Por vezes aparece
para avisar
— Use o filtro solar.

Boa cuca é coisa rara!

Lá onde moro agora
a morte é progresso
a pesca é selvagem.
Não sei quem inventou
que liberdade é bobagem.

Ah! A felicidade virou...

Qualquer coisa que se sonhara!

Publicado por Rosa Pena em 19/04/2007 às 19h53
 
18/04/2007 08h49
fred@.com. afeto
Rosa Pena

O porteiro interfonou, avisando que havia um embrulho para Rosa na portaria.
Curiosa como sou, peguei o elevador correndo. Uma caixa grande e misteriosa.
Agradeci e comecei a abrir ali mesmo. Vinha do Paraná.
Surgiu na minha frente uma linda carroça artesanal de fabricação caseira. Feita com ripas de madeiras, bem lixada, torneada, envernizada uma a uma. Ao olhar melhor reparei que ela tinha uma tampa secreta no centro que abria e desvendava um segredo. Um porta-jóias escondido. Lindo, perfeito. Abri e lá dentro um bilhete escrito UI!
Ah! A simplicidade de um artesão que se encontra em minhas letras.

Lembrei-me de Fernando Sabino em seu diagnóstico.”Seu escrito vale quando toca o coração de quem trabalha com as mãos. As cabeças pensantes em demasia tentam mudar a emoção do autor. Querem colocá-las em sua forma e não compartilhar a vivida pelo criador”.

Quem enviou?
Um fã, um amigo muito querido do virtual, mas posso dizer antigo, pois já convivemos na telinha há mais de quatro anos. Nunca deixou faltar seu bom dia. Fred é raridade, sinônimo de fidelidade.
Ele aconteceu de mansinho. Sem estardalhaço, sem preocupação de aparecer, sem conteúdo dramático, sem conflitos. Sabe daquelas situações corriqueiras de vida, onde um filho tem catapora e a gente se preocupa com ele, mas não dimensiona, não valoriza muito o fato e pensa que deu e passa? Alguns dias de cuidados, depois a vida segue esquecida do momento. Pois é! Fred para mim seria assim. Mais um leitor, algumas trocas de "oi", em seguida o sumiço tão comum no virtual. Mas cataporas por vezes complicam, se não tomarmos os devidos cuidados. Afinal, qualquer fato novo em nossa vida deve ser olhado de forma especial. Ainda bem que não tive cautela e deixei as bolotas se criarem.

Meu amigo, agora eterno, mostrou-me isto. A dar valor, até mesmo priorizar a simplicidade de ser, pois nela certamente temos muito que aprender.
Que dentro de carroças de madeira existe um espaço especial para guardar o amigo verdadeiro,
nunca os falsos brilhantes que brilham apenas por instantes.
Que na viagem da vida, nem sempre a corrida veloz ou a parada súbita, traduzem a emoção. A freqüência da velocidade muitas vezes transforma o nosso viajar bem mais prazeroso.
Principalmente se tivermos como acompanhantes artesões de afeto.

Carteiro! Leva um jardim para ele, pois só uma Rosa não basta.

Publicado por Rosa Pena em 18/04/2007 às 08h49
 
12/04/2007 10h04
PEDRAS AOS PASSARINHOS

(Djalma Filho)

- para Rosa Pena -





por que me fizeste assim maior que sou?

Sou teu igual,

existo para ser teu amante,

morador não nômade



toda consciência de qualquer existência é árdua,

ultrapassa os limites da banalidade e

de quem sempre anda acomodado num amor água com açúcar

[tipo: nem fede nem cheira]

daquele que pensa

que todos os dias da semana serão eternos Domingos

sem dorme ou acorda,

como se as noites e os dias não fossem moradores do relógio,

daquele que tem tudo

e acha muito fácil viver de renda

[sem compromisso]

enquanto há o paciente trabalho da conquista.



para ser teu morador,

caguei suando

qual passarinho que comeu pedras pela estrada;

para ser teu morador, fui de tudo um pouco:

bailarino do Bolshoi, bêbado de birosca, kardecista, apunculturista,

jogador de futebol, moreno, alto, louro, sarado, ativista, artista,

barítono do Barbeiro, estrangeiro, pentelho, halterofilista,

representante farmacêutico, escritor de notas frias,

locutor da Voz do Brasil, autor de tele-novelas,

sósia do Frank Sinatra, assistente social,

solidário no câncer, mineiro, canalha,

e tudo mais que foi possível.



por que te fiz assim maior que és?

És minha igual,

existes para ser minha amante,

moradora não nômade



Ah, passarinha - sei -

também comeste comigo as pedrinhas desta estrada
.


Publicado por Rosa Pena em 12/04/2007 às 10h04



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