Luz na névoa
Rosa Pena
Férias. Um resort, muitos mosquitos, quase choro a falta de sorte. Uma praia bonita, trezentos estrangeiros, eu começo a ficar sem noção se estou realmente em território brasileiro. Muitos pratos à bolonhesa e eu querendo ao alho e óleo. Um marido que reclama, uma saudade danada da filha que ficou no batente.
Vinte programas simultâneos na tentativa de deixar o hóspede contente. Quase tudo parece perdido quando de repente reparo dois olhos lindos bem abertos que me espiam. Sorrio!
Férias. Um resort, muitas crianças, um sol que eu nem tinha visto. Uma praia maravilhosa, cem brasileiros de diversos estados, doces gostosos, repelente eficiente, uma vontade danada de ser vovó.
Uma birra na piscina, um bico, um colo gostoso, duas lágrimas enxutas. Um riso, dois, três...Gargalhadas.
Cadê a tristeza que estava aqui? A Laura comeu.
Laura
Letra: Johnny Mercer /Música: David Raksin
1944
“Laura is the face in the misty light”
Para minha nova amiga Laura Gonzalez Nunes
ROSA
Carlos Edu Bernardes
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Rosa resgatou-me da oitava turbina quando o nível de água já ultrapassara os três sóis
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ninguém iria salvar-me depois de tanto tempo após a explosão
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Rosa foi
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ali estendido entre as paredes de titânio 34 nada mais me levava a pensar que ainda veria o pôr-dos-sóis novamente nem que poderia presenciar nossos amigos terráqueos vencerem os venusianos noutro campeonato de asa-delta-laser saboreando o incomparável whisky de Alfa-Blue
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eu sei que não deveria ter tentado desligar os sensores após 0,89 nanossegundos dos seus limites alotrópicos mas se tivesse dado certo teríamos conseguido alguns séculos a mais de oxigênio extra
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paciência - eu arrumaria uma boa defesa para a Corte Marcial intergalática porém inegavelmente voltaria a dar aulas nos planetas de detenção quando saísse da cadeia criogênica da Guanabara
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quê? estaria delirando? as possibilidades de sair dali com vida antes de uma nova reação em cadeia potencializada pela primeira explosão eram bem nulas
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bem - eu tentara
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foi quando numa fração de segundo - tempo bem maior do que aquele que ferrara meu intento - ouvi uma voz:
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"Carlos Edu!"
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pensei estar imaginando coisas... ninguém viria até aqui! a morte chama a gente pelo nome?
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"Carlos Edu!"
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olhei para cima e vi a abóbada cristalina do capacete de Rosa
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eu estava salvo se é que a C.M.U. (Corte Marcial do Universo) pudesse ser vista como salvação...
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"você está louca?" gritei
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"sim. ande logo!"
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tentei me colocar de pé mas não consegui
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minha bota direita estava enterrada até o tornozelo naquela terra encharcada do que outrora fora o Rio Nilo
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fiz um esforço descomunal e consegui retirá-la todavia os cadarços estavam presos nalguma coisa
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puxei novamente e um objeto cilíndrico veio laçado na outra ponta
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Rosa gritava e me xingava
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embolei o material e coloquei nos bolsos no exato momento em que era içado até a nave-novelo de Rosa
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no assento alvo e de volta para casa Rosa disse que não sabia se me abraçava ou se espatifava o meu occipital direito com o seu cotovelo delgado e feminino
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eu sorri o sorriso amarelo dos arteiros
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enquanto ela discorria sobre códigos e leis da Constituição Energético-Temporal entrecortados por um "Carlos Edu você nunca aprende" coloquei a mão no bolso e trouxe aquele bolo de material misturado com a terra estéril que nada lembrava a velha África
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era uma cápsula pequena adiabaticamente fechada
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provavelmente uma cápsula do tempo bem rudimentar
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já com o piloto automático ligado e em velocidade cruise Rosa ajudou-me a levantar e pediu que eu fosse trocar aquele uniforme praticamente destruído pela explosão e bendito que salvara a minha pele pelo menos por enquanto...
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depois de um banho anti-séptico que tratou de um par de feridas no meu braço direito e confortavelmente trajando uma nova indumentária mostrei para Rosa o pequeno pacote que subitamente se abriu quando ela encostou levemente o dedo indicador na sua superfície
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treinados para não tocar em nada sem uma inspeção minuciosa deixamos a caixinha no chão e a envolvemos numa redoma de chumbo transparente precavendo-nos de possível radiação
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passados poucos minutos chegamos mais perto e vimos por sobre uma pequena tira negra que parecia veludo uma constituição vegetal provavelmente uma parte aérea provida de apêndices verdes ou o que se costumava a chamar de folhas terminar em profusas pétalas vermelhas intactas lindas e perfeitas
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um pequeno bilhete escrito numa língua latina arcaica implorava 'povos do futuro clonem este espécime não deixem esta planta maravilhosa sumir da face da Terra'
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era belíssima! e como o achado fora meu olhei para a minha salvadora e disse com toda convicção e agradecimento enquanto beijava a sua bochecha corada:
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vamos disseminá-la universo à fora e seu nome será Rosa
http://www.thebeatles.com.br/beatlebox/
foto:rosa pena na arte digital de silsabóia
Timothy Mulholland
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Rosa Pena
As pupilas
Delataram
O senhor reitor.
Fim da picada
Rosa Pena
César Maia
Sérgio Cabral
Aedes Aegypti
formatação: Silvia Filippo
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