05/01/2008 17h07
Ando com saudades de café com pão.. Saudades.. autoria rosa pena
  Saudades

              Rosa Pena



Ando com saudades de café com pão, de namorados dando beijinhos no portão, de pedir bênção a pai e mãe, (Deus te abençoe), do sinal da cruz que fazia quando passava na frente da igreja, de ver um varal cheio de roupa com cheiro apenas de sabão, de ver alguém sorrindo enquanto lava a louça com bucha vegetal, de sentir respeito pela policia, de cantar o hino Nacional com mão no peito e lágrimas nos olhos, de acreditar que o Brasil ganhou a Copa do Mundo porque jogou direito, de saber que o Zezinho filho do porteiro não vai morrer de dengue e que Maria feirante poderá ter um filho médico. Saudades de homens que usavam apenas o assobio como galanteio.Fiu-fiu!

Morro de saudades do tempo em que um presidente de uma nação era o mais respeitado cidadão do país.Que cadeia era lugar só de ladrão. Acho que andaram invertendo a situação.

Ando com saudades de galinha de galinheiro, de macarrão feito em casa com tempero sem agrotóxico, de só poder tomar guaraná em dia de festa, de homens de gravatas, de novela com final feliz, de pipoca doce de pipoqueiro, de dar bom dia à vizinha, de ouvir alguém dizer obrigado ao motorista e ele frear devagarinho preocupado com o passageiro. Saudades de gritar que a porta está aberta para os que chegam. Um saco destrancar tanto papaiz.

Saudades do tempo em que educação não era confundida com autenticidade. Hoje se fala o que quer, em nome de uma "tal" verdade e pedir perdão virou raridade.

Ando com saudades de ver no céu pipas não atingidas pelo efeito estufa.

Saudades das chuvas sem acidez, que não causavam aridez. Saudades de poder viajar
sem medo de homem bomba, de ser recebida com pompa em outra nação.

Atualmente reina a desconfiança no coração.

Sinto muitas saudades do rubor das faces de minha mãe, quando se falava de sexo totalmente sem nexo.

Hoje ele é tão banal que até eu banalizei.

Acho que a maior saudade que tenho é a saudade de tudo que acreditei.

Para minha filha não poderei deixar sequer a esperança. Hoje já não se nasce criança.

Livro PreTextos/rosapena
2003


ps: Mais uma crônica de minha autoria vagando na net sem autoria!
Rosa Pena

Publicado por Rosa Pena em 05/01/2008 às 17h07
 
02/01/2008 11h20
Chanel 51

         Rosa Pena

 

Para onde vão as quimeras que nós profanamos? Sonhos não podem virar realidade. Devem ficar em estado de eterna utopia. Será que vão morar junto com o anel que “tu me deste era vidro e se quebrou”, o outro pé do brinco indiano, o batom cereja que a mochila da Company engoliu, o bilhete recebido com aquelas flores em algum dia dos namorados, a velha e companheira Lee comprada na nossa estréia em Free Shop?

Há um esconderijo, um pântano onde são tragados os sorrisos dos quinze anos, bolo vivo de meninas ainda brotos de mulher, a paquera com o professor de história, o cheiro de suor do bruto tesudo que dirigia a lotação do Nelson, o gosto do vinho daquele reveillon, quando a gente ainda acreditava em ano novo vida nova, o beijo delicioso que não teve replay (a língua ficou à míngua). “O amor que tu me tinhas era pouco e se acabou”.

Ficam lá, numa esquina impenetrável, ao som de meia dúzia de frases repetidas pelos deuses da nostalgia e a gente implora ao diabo contemporâneo para esquecer. No dia em que percebemos que eles, finalmente, compraram passagem pra desmemória... Ah! Escrevemos para imortalizar.

É bizarro ver os lábios trancados e as palavras voando soltas. Acho que ficamos com uma puta vontade de “gritar” no aberto tudo que vivemos em pvt. Perai galera! Vivi sim!

Talvez mais... É uma vontade filha da mãe de falar para as mocinhas, teimosas em nos ensinar como é a vida, que já tivemos brincos caducos, bolsas de griffe, aeroportos com suspiros de tesão, vinte e nove semanas de amores proibidos, desejo súbito de ter geladeira amarela para homenagear o submarino, AP cheirando a incenso patchuli, corpo borrifado de Chanel n°5, calcinhas da Victoria's, cangas de bali, barriga sarada, Red Bull sem flacidez nas asas.

A gente não nasce tias do Mauro Rasi. A vida é que nos veste delas.

 

 

 


Publicado por Rosa Pena em 02/01/2008 às 11h20
 
28/12/2007 17h40
Feliz 2008

Pipas no Ar


Rosa Pena


 


Sônia Braga, menina moça na novela, tão boazinha e equilibrada, rouba na cara de pau o marido da amiga. Não é traidora, é só exótica. Foi-se o tempo em que geladeira era branca e telefone, preto. Agora, só barata voa ou pipa ainda voa?


O menino pede ao pai para comprar papel de seda. O silicone conversa com o botox sobre o ortomolecular que faz a pessoa perder 20 quilos em dez dias. Foi-se o tempo em que médico era doutor e mago era bruxo.


O menino pergunta para o pai o que é rabiola.


O bichólogo avisa que Netuno está na casa de Urano e que este pode ou não entrar pelo cano, mas que ainda assim a Cicarelli vai se casar com um bombeiro mecânico búlgaro. A Bulgária vai virar companheira.


Foi-se o tempo em que astrologia estudava astros e estrelas e não astros e estrelas comandavam o universo. Vênus já foi de Botticelli agora é a Cicarelli.


O menino quer a rabiola toda colorida. O macarrão vira cola.


O personal trainer avisa que com 58 sessões de RPG aquela dorzinha chata passa. Foi-se o tempo do Emplastro Sabiá, aliás, o Sabiá nem sabe mais se vai voltar, pois está na dúvida se aqui é o seu lugar. O menino pergunta pela linha e o que é cerol. O pai avisa que não se corta a beleza dos outros sem se cortar a si próprio.


O celular toca, só para avisar que está Vivo. O telemarketing ocupa a linha.  Foi-se o tempo em que se dizia tem um boi na linha. Agora tem uma boiada mesmo e dela não sou rei, sou só um filho da puta de consumidor.


 O menino pergunta pela armação! Da pipa e não a da telefonia.


O relógio sem ponteiros e sem números tenta avisar em Braille que está perto de meia-noite. Foi-se o tempo em que se via hora em relógio. Agora ele só serve para assalto.


Pessoas começam a abrir a champanhe sem pressa. A família que espere, o fogaréu deste ano pipocará durante duas horas sob o patrocínio da Rede Globo. Plim plim! Tudo bem, pois meia-noite é só lá pra uma da matina. Horário de verão é a grande solução para a crise do planalto. Todo mundo chora e grita empurrando uns aos outros: "Paz!".


O pai mostra ao filho o papagaio pronto em forma de estrela guia. O menino ignora o dia, a hora e coloca sua pipa dentro do primeiro arco-íris do novo ano. Para ele não existe nenhuma dúvida, nenhuma questão pendurada, se Plutão era planeta ou anão, se Elvis Presley morreu ou não. Só interessa que o menino nasceu.


Com licença e sua bênção, 2008.


 


 


Publicado por Rosa Pena em 28/12/2007 às 17h40
 
20/12/2007 09h37
*


 Recriação

Rosa Pena

 

Pesquisa de opinião:


O que lembra o Natal?

Deu na cabeça:
 Papai Noel
(também com a cara estampada,
na TV, no jornal).

Abaixo:
(pequena margem de diferença)
 O presente.


Daí em diante...
 Chester

Tender

(com ou sem love?)
peru

panetone
 frango
(para aquele que falta o tutu).


Lembraram até do trenó,

do pisca- pisca noturno

na árvore da Lagoa.

da neve

 da rena.


E Jesus?
Que pena.
Ficou pro segundo turno.

 

Ainda bem que Ele perdoa.
 Já conhece a gente

e nos recria contente!




foto: minha amiga Charlyane  e sua netinha Thamy!

Prova da felicidade na recriação!

Feliz Natal


Publicado por Rosa Pena em 20/12/2007 às 09h37
 
19/12/2007 15h36
Um Natal nada virtual

Um Natal nada virtual é tirarem a autoria de: Isto é virtual, texto de Rosa Pena!


Entrei apressado e com muita fome no restaurante.  (Não entrou não seu cara de pau, quem entrou fui eu Rosa Pena, e mais, entrei numa confeitaria, até  que  alguém resolver tirar minha autoria e repassar como se tivesse vivido o que eu vivi.)   Texto correto em:  http://www.rosapena.com/visualizar.php?idt=30863


Publicado por Rosa Pena em 19/12/2007 às 15h36



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