30/05/2006 13h10
Descoladas
Rosa Pena

Vesti sua infância e tentei ser você, pois imaginei que assim, você gostaria.
Vesti sua adolescência e tentei ser você, pois imaginei que assim, eu lhe entenderia.
Vesti os seus sonhos, pois imaginei que assim, contigo voaria.
Vesti os seus pesadelos, pois imaginei que assim, você os diminuiria.
Não perguntei se era assim que você queria.
A vida é sua e não minha.
Despi-me de você e finalmente percebi a sua alegria.

Dançaremos como mãe e filha até o raiar do último dia.


foto: ana carolina pena/ 2006
arte by Elcy

Publicado por Rosa Pena em 30/05/2006 às 13h10
 
11/05/2006 17h00
Mais além
Rosa Pena


* Para Carol, minha filha que será minha futura mamãe.



Você não pariu! Seu organismo não permitiu, não achou seu companheiro, não teve condições econômicas, sua vontade foi sublimada por outras necessidades, ou então é homem. Inúmeras razões não caberiam aqui.
Domingo você está fora da festa?
Não está, não. Dia das Mães acima de tudo é dia do amor.
Não se sinta alijada(o) da festa.
Não estou desmerecendo as dores do parto. São fortes, talvez a única dor bela.

Mas há quem não as sentiu fisicamente e foi e é tão mãe!

As que adotaram seus filhos, as que adotaram seus pais e neles tiveram a noção quase perfeita da maternidade; as que adotaram causas tão nobres para melhorar a vida de nossos filhos; os pais que ocuparam a função materna; enfim, todos aqueles que estabeleceram dentro de si este laço ou este lado real e verdadeiramente maternal.
Mãe só tem uma, geralmente a nossa. Esta frase tão dita é verdadeira sim, mas filhos não se tem apenas um. Existem filhos das mais diferentes causas, das mais lindas maneiras.
Então, parabenizo as mães biológicas reais e de fato. Exalto a minha, a Virgem Maria, mãe das mães, e não pariu; exalto você que exerceu com maestria o papel de mãe ao qual foi destinada; exalto as mães por acaso.
Se você ainda está se sentindo fora da festa, procure dentro do coração, repasse sua vida e verá que gerou, cuidou, alimentou, amou, dedicou-se a um filho. Qual?
-A resposta está dentro de você.
Minha mãe, no último ano de sua vida, inverteu os papéis.
Ela presenteou-me no Dia das Mães. Ganhei rosas cor-de-chá e um cartão que dizia:

“Filha Rosa :
Quem saiu de quem?
Isto não importa, amor vai mais além.
Beijos,
sua filha
mamãe Evelin.”

2002


http://www.rosapena.recantodasletras.com.br

Publicado por Rosa Pena em 11/05/2006 às 17h00
 
13/04/2006 14h52
Adubando o coração
Rosa Pena


Enfim o sol reapareceu depois de vários dias de chuvas finas e miúdas, daquelas que precedem um vendaval.

Saio de encontro aos raios e vejo na pracinha minha vizinha, árvores caídas, arrancadas desde a raiz. Sentado num dos bancos, uma cabeça baixa, um menino com cheiro de virgem e olhar de quem está sofrendo de amor pela primeira vez. Choro miúdo, soluço fino, com o jeito da chuva que precedeu o vendaval. Sem resistir a minha emoção, pergunto o motivo de suas lágrimas. Desconversa e murmura baixinho:

-Quantos dias de chuvas finas e no final vieram esses ventos tão fortes que arrancaram as árvores pela raiz, sem ao menos quebrar um galho.
Tombaram inteiras.

- Veja só como é a natureza, a chuva foi aos poucos molhando a terra, deixando-a fofa, para que as raízes se soltassem devagarinho, em vez do vento quebrar alguns galhos, destruir suas folhas. Encantadas, enamoradas dos jardins caíram intactas.
Nos olhamos nos olhos de forma fixa. Ameacei um sorriso e ele ameaçou corresponder. Concluo de forma ligeira já percebendo que a brisa da esperança começava a substituir o furacão da prematura desilusão:

- Lágrimas não caem em vão, fertilizam o coração. Árvores que tombam desde da raiz são refincadas na terra úmida e renascem com mais forças. São árvores bem plantadas, diferentes de galhos que caem secos, galhos de ocasião que qualquer vento quebra e viram cinzas em alguma lareira solitária. As sólidas sempre florirão a cada nova primavera da vida. Eu acredito em ressurreição.

É páscoa no coração.

Publicado por Rosa Pena em 13/04/2006 às 14h52
 
07/04/2006 14h37
Peter Pan
Rosa Pena



Porque seu sorriso de fé desafia qualquer medo, porque você me despe de convenção e me veste de você, porque lugar algum contigo vira comum, porque seus dedos fazem tão bem cafuné que brotam mechas até em carecas, porque você vira berço quando me sinto recém-nascida, porque seus olhos transformam mulheres em flores, porque não tem Gancho algum que segure seus anseios, porque nunca vamos crescer, eu lhe decreto meu Peter Pan. Me dá sua mão e me leva contigo até a janela da casa onde se realizam sonhos. Até a Sininho, mesmo sentindo ciúmes de mim, consentirá em fazer plim-plim.

Publicado por Rosa Pena em 07/04/2006 às 14h37
 
21/03/2006 17h33
Proposta insensata
Proposta insensata
Rosa Pena

Suas dúvidas? Não quero ouvir. Conta apenas as suas certezas ainda que incertas. Deixa que eu curta um pouco mais essas flores que a vida me enviou de surpresa. Não me diga seus segredos, nem eu digo os meus. Não revelamos os nossos negativos em preto- e- branco, nem os nossos coloridos por mais maravilhosos que sejam.
Sem exposição do ontem, sem comparações com o anteontem, sem planejamento para amanhã. Nada de listas de triunfos, muito menos dos fracassos. Nada de chorar os quases que não se completaram, nada de imaginar que agora é sem quase e completo. Apenas pega a chave e abra minhas algemas antigas, tira os espinhos de meus pés e me ensina o atalho que leva os meus seios até a sua boca. Silencio você com eles.
Desligaremos qualquer sistema do planeta e só atenderemos as chamadas de nossos corpos, exceto se for Deus na linha, avisando que chegamos ao final dela.



março de 2006

Publicado por Rosa Pena em 21/03/2006 às 17h33



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