23/07/2005 23h26
Perdão é uma boa opção
Rosa Pena


- Você sentado aqui no banco da praça de uniforme, não foi à escola?
-Não!
- Vejo que está triste. Que aconteceu?
- Ontem era dia do meu pai ir à escola pegar meu boletim, mas no caminho resolveu parar um bar, e lá ficou bebendo com os amigos. Fiquei com muita vergonha de não ter ninguém para receber.
- Acha que ele não gosta de você?
-Não sei, pois no bar ele fica falando que sou bom aluno, mas nunca olha meu boletim.
- Sabe menino, talvez ele seja um tipo diferente que ama de forma indiferente, entende?
-Entender é perdoar?
-Não. É o caminho para chegar lá. Você só perdoa quando consegue vencer aquilo que te magoou.
- Quando a gente sabe que venceu?
- Quando some o desgosto.
- Já te magoaram muitas vezes?
- Sim! Já fui diversas vezes magoada, e sei que também já magoei. Há pouco tempo no serviço uma colega pegou um trabalho que eu fiz e apresentou para o nosso chefe dizendo que ela que tinha feito.
- Você perdoou?
- Tomamos uma cerveja ontem.
- Já foi traída?
- Muitas! Várias na amizade e várias no amor. Tive um namorado que dizia que me amava quando nunca me amou, pois me virou as costas num momento bem difícil de minha vida.
- E você?
- Lembro-me dele com muito carinho.
- É difícil o tal perdão?
- Depende da disposição de seu coração.
- Como descubro?
- Deus dá um sinal. Seu pai já fez isto muitas vezes?
- Fez o quê?
- Vá para casa. Você já o perdoou.

Publicado por Rosa Pena em 23/07/2005 às 23h26
 
22/07/2005 09h09
Palmas para o Rei!
Rosa Pena


Por estes dias resolvi dar uma voltinha no passado, e subi até o Alto da Boa Vista, bairro do Rio de Janeiro, lugar onde cresci. Em cada curva uma saudade. A do "S" sempre foi extremamente perigosa, por ser tão sinuosa como seu nome. Foi nela que levei meu primeiro tombo de moto.Lembro-me que quem me socorreu foi Seu Tadeu, um negro que já tinha cabelo branco, e olha que quando negro embranquece o cabelo a idade já vai longe. Ele tinha sido na minha primeira infância um personagem que dava medo. Inventou-se na rua que ele era o fantasma do Zumbi, que havia voltado pra se vingar da escravidão.
No início da adolescência descobri que ele era apenas uma pessoa diferente na maneira de ver a vida. Não era indolente, pelo contrário, era muito trabalhador, porém não tinha pressa alguma, fato que sempre irritou o homem moderno. Correr significa sucesso! Tadeu vivia de mansinho como ele mesmo definia. Pintor de paredes, pintava os sete, os oito, o infinito. Não dispensava elogios para as moças que passassem, um tchau pras crianças, uma ajudada nas sacolas das senhoras, uma fé no bicho, uma cachaça antes de sumir na noite. Estranhamente dava tempo de fazer tudo que os maratonistas contemporâneos não conseguem. Tinha conceitos próprios formados na UV. Universidade da Vida. Não acreditava muito que o homem houvesse pisado na lua, não usava relógio, marcava o tempo pelo sol, depois só conferia com algum passante, tinha uma erva medicinal para cada doença, sabia se ia chover pela dor na perna, pelo comportamento dos animais, não brigava jamais, vivia sorrindo, por vezes até chorava, mas impassível jamais. Talvez sejam esses os motivos de muitos acharem que ele era de outro mundo. Calma, transparência, sentimentos claros e gentileza, já morreram. São fantasmas do passado. Comecei a conviver com ele bem antes de "virar vaca" com a Honda. Nossa amizade começou quando ele foi pintar minha casa, cinco anos antes da maldita derrapada. Chegava em minha casa bem cedinho com um sorriso imenso no rosto, coisa que eu achava impossível de se ter quando se acorda. Eu sempre tava correndo pra ir pra escola, tomando uma vitamina já na porta de saída, com muita raiva de não poder ficar dormindo. Ele ria da minha pressa. Quando eu chegava pro almoço ele já tinha almoçado, e estava dando uma descansada, limpando os pincéis. Mamãe dizia da cozinha pra ele tomar leite, evitava intoxicação com a tinta. Ele revidava que depois tomava uma cachaça, e matava tudo. Eu tinha a urgência dos jovens, não prestava atenção nele, fora que aos onze anos, a gente tem crises de mau humor por estarmos vivos com saúde, mutismos pra criar climão, irritação porque fez sol, ódio porque choveu ou something like this. Um dia perdi um anel de ouro que havia sido de minha avó, que apanhei "emprestado" de minha mãe. Ele me viu chorando pelos cantos, perguntou-me o motivo, e eu contei. Acho que sempre soube que ele era um amigo confiável. Comprou minha causa e me ajudou a achar, sem contar nada pra mamãe. Viramos cúmplices. Amigos da mesmíssima idade nas traquinagens. Passamos a partir dali a conversar muito, e descobri que ele era ótimo em conta de multiplicação, grande amigo do jornaleiro que arrumava a figurinha mais difícil do álbum, e de papo em papo, hoje sei que ele aproveitava pra dizer da besteira que era a pressa em viver, da falta de um sorriso no rosto, do sacrilégio de se ter o dom da palavra, e não usá-la para falar que fosse, que o melhor pode ser o silêncio. Aos poucos sei que fui ficando mais calma, mais alegre, mais falante com o mundo, e mais amiga do rei dos Palmares. Ele ensinou-me que sempre há tempo para dizer um oi para os conhecidos, sorrir pra um amigo. Que ninguém tem o direito de dispor do seu humor para ser legal ou não com seu semelhante. Será que os maus humorados teriam cura com meu amigo? Talvez sim ou talvez eu tenha nascido com o riso solto como meu pai sempre afirmou. Adoro rir com a vida e da vida. É mais rápido que a briga.
Tadeu já se foi placidamente desta vida há um tempão, e afirmava que não tinha medo da morte, pois quando ela chegasse apressada, ia quebrar a cara ao vê-lo sentado esperando-a com calma, e com um sorriso de deboche. Não sei se estava com o tal sorriso pra desdita, pois morreu dormindo, mas que foi enterrado com uma cara bem safada, lá isso foi. Na época de sua morte achei que tinha perdido apenas um amigo ótimo de prosa, de muitas histórias, e de eterno bom humor. Agora descubro que o que eu perdi foi mais. Perdi um bocado da dose de tranqüilidade que ele me transmitia, o ar sereno para falar de coisas complicadas, de saber que se um problema não tem solução deixou de ser charada (deixa quieto de lado), de não ter medo da morte, de driblar a falta de sorte. Hoje meus dias se tornaram mais curtos, pois ele levou consigo o segredo da multiplicação do tempo. Ainda bem que deixou as porções mágicas do sorriso, que me leva a ter disposição de encarar a vida, mesmo quando ela teima em brigar comigo.
E por falar nisso...
-Bom Dia amigo! Tudo bem contigo?

midi/ cabelos brancos

Publicado por Rosa Pena em 22/07/2005 às 09h09
 
29/06/2005 10h48
Tchau é gratuito!
Sei que as coisas andam ruins para todos. Sei da aflição de alguns, sei de novas opções de outros, e fico triste pela ausência, mas meu coração se chora por um lado, por outro fica calmo, por saber que eles gostam tanto de mim como eu deles e permitem que eu saiba de suas alegrias e tristezas. Essa é a diferença que ontem, depois de muito refletir, conclui. Permissão que se dá aos que amamos, de saber o que se passa, e nós compreendermos que por vezes o amigo quer solidão ou tomou novos rumos. O que quero dizer é que não temos até certo ponto, o direito de entrar na vida de ninguém por mais amigos que sejamos, mas o amor nos permite sim, sentir saudades e preocupação. Então não admito que amigos sumam sem dizer alguma razão. Que digam apenas : Fui, pois estou ocupado; fui, pois não te amo mais; fui, pois o grupo não mais me apraz; fui, pois aqui era só uma fase; fui porque quero paz; fui e não volto mais ou enfim apenas fuiiii! Não estou pedindo aquelas despedidas de 24 horas, tipo Oscar do basquete nas mil cestas, que de tanto se despedir viraram 10.000. Esses que dão adeus e no dia seguinte postam, todos já sabem a proposta. É pedir colo.

Não estou pedindo que falem de suas intimidades ou de suas individualidades, essas eu respeito. Estou apenas afirmando que por mais que eu diga não a mim, o eu te amo virtual para alguns é virtual mesmo, e virtual para eles é banal. Eu não achava isso até bem pouco tempo atrás. Estive revendo conceitos. Quem tiver ido sem aviso, quando voltar encontrará meu coração ocupado, pois ele não é virtual e o meu EU TE AMO não é trivial.

Só a morte permite o sumiço sem aviso, daqueles que se dizem realmente amigos.

Publicado por Rosa Pena em 29/06/2005 às 10h48
 
19/05/2005 10h53
ADEUS .. voltarei a pedidos!
Sempre condenei aqueles que se despedem e voltam.Oscar do basquete fez mil cestas e mil e uma despedidas. Romário idem.
- Adeus!
Foram e na semana seguinte já estavam de volta!
Nas dietas costumamos dar adeus aos quilos extras, e no mês seguinte lá estão eles de novo.
Gente, esse pode ser meu último diário. Posso estar me despedindo de vocês, portanto tenham certeza que eu volto! Dá Ibope essa de encontros e despedidas.
Andei observando o tempo que gasto na net e o tempo que gasto fora dela. Descobri que gasto o dobro de minhas horas vadias no virtual. Digo para mim mesma que preciso muito do sol e de ouvir gente, não basta só ler voz.
Resolvo que vou racionar meu tempo virtual, não vou ligar o micro logo cedo, aliás não ligarei mais. Afinal há tanta vida lá fora e aqui dentro não é como uma onda no mar, prestanção Lulu! Vou à praia, mas a mais próxima de minha casa está condenada para banho por excesso de impurezas, terei que ir de carro para uma bem longe, porém meu carro está com defeito desde que foi achado depois do terceiro roubo, então vou ter que ir de ônibus, entretanto não posso levar dinheiro para tomar nada, nem levar meu cd player, pois provavelmente vou ser roubada. Desisto da praia. Vou ao shopping comprar algo para minha coleção de não sei o quê, todavia tenho que ir de táxi , custa caro e os motoristas estão malcriados com corridas muito pequenas. O melhor que tenho a fazer é descer só até a portaria do meu prédio e conversar com o Dosdival o porteiro da manhã, contudo ele sempre está vendo o louro José da Ana Maria Braga, e não me dará atenção. Sobrou ir para a casa da minha irmã, no entanto ela deve estar na net baixando os e-mails e vai ficar injuriada com a minha presença. Acho que acabaram todas as conjunções adversativas diante de tantas condições adversas. Segue portanto meu bom dia. Quando eu completar mil prosas eu anuncio novamente minha despedida, que não é garantia de ida, provavelmente é de volta, a pedidos de todos, que é um pronome indefinido, podem ser duas ou cem súplicas. Retornar a pedidos é ótimo, deixa o ego bronzeado, sem precisar enfrentar tanto senão.

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obs/ façam os comentários no próprio e-mail, se quiserem fazer, pois ainda tem problema no envio de comentários!

Publicado por Rosa Pena em 19/05/2005 às 10h53
 
16/05/2005 10h31
Paradoxo
Hoje se você está esperando eu que fale do meu pé enganou-se redondamente querido diário. Ele me deixou dormir, talvez por ter sido ameaçado de ser extirpado de vez. Afinal, dentro dos meus atuais sonhos reais, ver minha filha formada e casada, ter netos, acabar de escrever meu romance e ir a Veneza, tê-lo ou não tê-lo pouca diferença faz. Mesmo que aspirasse algo maior, como a presidência de uma nação, não ter um dedinho, não muda nada, isto qualquer brasileiro ta cansado de saber. Dentro dos meus sonhos virtuais também ele se faz desnecessário. Virtualmente estou bem. Já tenho casa própria( site), sou owner, moderadora, tenho e-book, tenho blog, estou no orkut, no gazzag, quase chegando em Marte e sei lá mais o que tem que ter ou estar por aqui.
Lembrei-me dos meus tempos de MSS, Movimento dos Sem Site. Lutei com meu boné virtual e quase fiz barricada pra ter um canto próprio. Era tudo que eu sonhava, aliás a grande aspiração dentro da net é ter uma htpprópria. Mora aonde? Na www.com, tá pensando o quê???!!Eu tenho http.
Estranhamente começo a sentir saudades do tempo em que eu podia escrever sem lenço e sem documento. Ninguém me cobrava nada. Escrevia sem imposto e sem encosto. Por vezes me pego sentindo uma inveja branca de escritores maravilhosos que leio, mas que ainda estão no MSS.Hoje particularmente estou saudosa dos meus tempos de leitora e rabiscadora de emoções, onde eu podia navegar contra o vento:
– “Eu vou porque não?”.
Neste momento penso nos paradoxos da vida. Eterna briga pelo que não se tem, saudade do que não se tinha. Maluca vidinha essa que me leva a sentir saudades do meu tempo de @. Estranhamente porém, não abro mão do que consegui. Não tem como se voltar no tempo.
O conjugado que morei logo que me casei, onde fui tão feliz, hoje ficaria totalmente sem graça diante do quatro quartos que atualmente usufruo.
Meu endereço mudou. Espero que só ele. Coração não tem status.

Publicado por Rosa Pena em 16/05/2005 às 10h31



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