Clausura
Rosa Pena
Ela não brindou.
Tomou um porre mesmo.
Ela bebeu pelo que não viveu e vomitou o que viveu.
Lembrei-me do ex-condenado. Passou vinte anos no cativeiro. Quando absolvido não conseguiu sair do presídio.
Arraigado nas quatro paredes. Isolado para se proteger.
Presidiário de si.
Ela?
Talvez mais que o ex-condenado.
Não há chave que abra a cadeia do destino, quando a clausura é imposta pela vida.
E, afinal, de que serviria a liberdade se ela significava continuar a não tê-lo?
Saudades do presídio forçado.
Justificava a solidão.
livro PreTextos/ 2004