Clausura

 Rosa Pena 


Ela não brindou.
Tomou um porre mesmo.
Ela bebeu pelo que não viveu e vomitou o que viveu.
Lembrei-me do ex-condenado. Passou vinte anos no cativeiro. Quando absolvido não conseguiu sair do presídio.
Arraigado nas quatro paredes. Isolado para se proteger.
Presidiário de si.


Ela?


Talvez mais que o ex-condenado.
Não há chave que abra a cadeia do destino, quando a clausura é imposta pela vida.
E, afinal, de que serviria a liberdade se ela significava continuar a não tê-lo?


Saudades do presídio forçado.
Justificava a solidão. 



livro PreTextos/ 2004

 

      
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 09/01/2006
Alterado em 22/10/2008
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