Prosa da aproximação

 

Rosa Pena

 

 

"De repente, não mais que de repente...” Percebemos o vazio de mandar um bom dia, crônicas, poemas, para tantos sites, grupos, pois de repente, não mais que de repente ficou claro que quase ninguém lê e lotamos as caixas do pessoal assim como achamos que eles lotam as nossas.


De repente, não mais que de repente...Caí nossa ficha que a Net está com uma superpopulação e teimosamente permanecemos no final dos anos 90 quando começamos a usá-la. Esquecemos que o tempo é muito mais veloz do que imaginávamos (eu era adolescente ainda ontem) e se o Cazuza já dizia que o tempo não para, no virtualismo ele voa e nem precisa de controlador ou precisa? Será que estamos em greve de amor?


 De repente, não mais que de repente...Percebemos que virou pura obstinação tentar andar bem junto em qualquer multidão. Todo sistema tem sempre um rei e aqui temos tantos. Uol, Terra, Yahoo, Hotmail, Google... Súditos dessas majestades, pois somos cativos de afeto, entramos geral na deles e aos poucos vamos perdendo nossa identidade, viramos ID, perfil, poeta entre milhares de milhões.


De repente, não mais que de repente o riso fez-se megas, as bocas @, a poesia spam
E o e-mail ficou triste, a Net irritante.


De repente, não mais que de repente olha-se de frente o vizinho real e percebe-se que um condomínio é feito de gente e não uma comunidade do Orkut.


De repente, não mais que de repente redescobrimos que tudo na vida é novidade, passou e que virou apenas pirraça querer voltar ao tempo das surpresas. Babou!


Também de repente, não mais que de repente percebemos que não conseguimos fechar a porta para alguém que nunca vimos, mas que sabemos ser exatamente igual a nós e nos faz tanta falta, talvez mais que uma irmã de sangue que nunca se emocionou com Drummond.


E de repente, não mais que de repente nasce esse bom dia insistente, essa prosa incoerente que mente ao dizer que a Internet não me faz mais contente. Um bom download pra todos. Se pintar saudades Baixaki. 


(refeita de bom dia teimoso/rosa pena 2004)

*

Soneto da Separação

Vinícius de Moraes
 

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente .

Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 09/03/2008
Alterado em 16/09/2008
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