Adubando o Coração
Rosa Pena
Enfim o sol reapareceu depois de vários dias de chuvas finas e miúdas, daquelas que precedem um vendaval.
Saio de encontro aos raios e vejo na pracinha, minha vizinha,, árvores caídas, arrancadas desde a raiz. Sentado num dos bancos, uma cabeça baixa, um menino com cheiro de virgem e olhar de quem está sofrendo de amor pela primeira vez. Choro miúdo, soluço fino, com o jeito da chuva que precedeu o vendaval. Sem resistir a minha emoção, pergunto o motivo de suas lágrimas. Desconversa e murmura baixinho:
— Quantos dias de chuvas finas e, no final, vieram ventos tão fortes que arrancaram as árvores pela raiz, sem ao menos quebrar um galho. Tombaram inteiras.
— Veja só como é a natureza: a chuva foi aos poucos molhando a terra, deixando-a fofa, para que as raízes se soltassem devagarinho, em vez do vento quebrar alguns galhos, destruir suas folhas. Encantadas, enamoradas dos jardins caíram intactas.
Nos olhamos nos olhos de forma fixa. Ameacei um sorriso e ele ameaçou corresponder. Concluo de forma ligeira, já percebendo que a brisa da esperança começava a substituir o furacão da prematura desilusão:
— Lágrimas não caem em vão, fertilizam o coração. Árvores que tombam desde da raiz são refincadas na terra úmida e renascem com mais forças. São árvores bem plantadas, diferentes de galhos que caem secos, galhos de ocasião que qualquer vento quebra e viram cinzas em alguma lareira solitária. As sólidas sempre florirão a cada nova primavera da vida.
Eu acredito em ressurreição. É páscoa no coração!