Onde anda a poesia?
Rosa Pena

 

Eduardo e Lúcia sempre foram ausência e presença, verdade e mentira, mas sempre melhor que o vazio. Ela desejou fosse um pouquinho verdade o carinho dito às vezes no fim de noite. Estava começando a sentir aquela urgência íntima, aquele desejo de grávida, comer morangos frescos colhidos por meninos virgens da Patagônia. Sim, desejos na gravidez requerem emoção, nunca são banais. Aquele poeta era coisa rara, era flor brotando no outono, era luz de luar dentro daquele bar fechado com cheiro de melancolia. Andava esgotada do falso néon.
Venha!
Tão envolvido estava em suas rimas, que quando ouviu o grito de Lúcia, apenas deu um sorriso de consentimento para disfarçar seus sentimentos. Desviou o olhar do papel e olhou-a fixo, com a mais absoluta certeza de saber por onde navegavam seus pensamentos. Bem que poderia ser verdade o carinho.

A partir dali fizeram-se cúmplices na vontade, no desejo. Ambos sabiam que ali se iniciava o precipício, que realmente começou desde o início, quando cruzaram duas almas tão parecidas naquele bar. Resolvida a ser suicida, dá um sorriso maroto para o poeta, aproxima-se e encosta sua coxa na dele. Agora sim eram dois casais de verdade, onde a intimidade ficou por conta do silêncio indecente que reinou, apenas quebrada por um sussurro gostoso, quando aquelas mãos largaram a caneta e deslizaram suavemente na parte mais íntima dela. Aquele foi o mais belo quadro que ela pintou. Aquarela com sabor é o nome da obra que hoje enfeita a parede de seu quarto. É o que a ajuda a suportar as noites vazias de Eduardo.

                         Onde anda a poesia?
 


 

 

Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 06/01/2022
Alterado em 06/01/2022





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