Desassossego
(Rosa Pena)


 
A poesia exige um bocado dos seus sonhos, as histórias do que viveu, com riso ou choro, com sol escaldante ou chuva torrencial, barulho de vento,  riso engolido, gargalhada solta,  momentos vindos do amor, da raiva. 
As rimas estão à espera da libertação. Fala das águas, das árvores floridas ou secas, das redes sem pesca e sem descanso, cria um barco a deriva, chora seus cansaços, busca as marcas de seus pés num país coberto pela estupidez, de um mar que seu corpo nu já sentiu o sal, do eclipse que não viu, da estrela cadente que passou sem seu desejo, das bocas que beijou com juras de amor, da filha tão bonita que sequer acredita que veio de você.
Na sua frente existe uma folha em branco que implora o rascunho do seu viver para virar um poema.
Tola e louca  será se deixá-la ficar amarelada sem ter experimentado o prazer maior do poeta.

A venturosa inspiração.
Ajuda, por favor, Fernando. A pandemia castrou meu lirismo.



 (Saudação ao Livro do Desassossego de Fernando Pessoa)





 
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 02/08/2020
Alterado em 02/08/2020





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