Sabino sabe!

                                        Rosa Pena

                                  para meu sobrinho-neto


Eu e minha sobrinha conversávamos sobre o casamento de uma jovem, filha de uma grande amiga em comum. Dizíamos que as chances daquele enlace dar certo eram mínimas, pois estava na cara que eles não se amavam.Felipe estava vendo desenho na TV e parecia não estar ouvindo, até que de repente pronunciou: 
— Vou casar com a mamãe!
Tentei explicar que não casamos com nossos pais.
Ele me olhou espantado e revidou: 
— Então caso contigo.
Tentei dizer que com tia também não vale. 
— Por que se eu amo vocês?
Bem, como se explica para um pingo de gente as diferenças do amor?
Sem palavras comecei a sorrir. Ele então disse baixinho no meu ouvido que agora era meu namorado.
Para mudar o rumo da prosa ofereci-lhe um chocolate. Ele se lambuzou todo com ar de felicidade no rosto.
Lembrei-me do Fernando Sabino e abracei-o com força.
Ah meu mestre Sabino!  A vida inteira eu aprenderei com você.
Meu desejo é igualzinho ao seu. 


"A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura — ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido — vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso. Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso". (A Última Crônica)Fernando Sabino.


foto/ Fernando Tavares Sabino
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 27/10/2005
Alterado em 20/11/2008
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