Será que bebi ou vivi demais?
Rosa Pena
A covardia está encontrando terreno fértil em mim.
Digo que prefiro o turismo interno, para não declarar que bombas, terremotos, vendavais me prendem a esse solo varonil. Salve, salve o Brasil, os governantes vão para a rima que pariu. A fraqueza também travou minha língua. Tenho deixado de devolver varadas verbais de conhecidos, amigos súbitos, alguns parentes, com a desculpa de não querer alimentar rancores.
O temor insiste em vendar meus olhos para que eu não mais leia tanto sobre esses tiranos da soberania popular. Não me falem só do terror do Estado Islâmico. Têm outros tantos por aí com fantasias e alegorias de paz. Ganham até Nobel!
Por onde anda minha juvenil valentia? Será que foi a idade que me fez bailarina pequenina e frágil que só se expõe dentro de uma caixinha de música? Tenho escrito bem menos por total falta de ânimo.
O antônimo, esse maldito desânimo, é acovardamento. É sim! Sem exposição, sem preocupação.
E eu, que já falei tanto, briguei pra cacete, andei torta, voei alto, não sei o exato momento em que passei a guardar muito de meus vocábulos de protesto na garganta, esconder minhas asas no fundo de um baú, permitir conformada que a flor que sempre existiu em mim começasse a murchar. Também pudera...sem luz! Mas, como posso teimar em continuar a querer o infinito, vendo em volta o tédio, quase geral, com o Sol mais espantado do que eu com cheiro de gases da pesada comprometendo a criança que ainda vem?
Só torço para que essa covardia caduca não me faça engolir os beijos que estão em meus lábios e ainda não dei.
No mais passa a régua e fecha a conta. Será que bebi ou vivi demais?
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 05/01/2018
Alterado em 07/01/2018