Ela alugou meu apartamento na Barra de frente para praia por sete dias. Veio com o marido e duas menininhas que nunca tinham entrado no mar. Chegou a noite debaixo de muita chuva. O gás da cozinha estava desligado por conta de um vazamento no prédio. Passou-me uma mensagem pelo celular bastante nervosa. Disse-lhe a verdade. Pensei que já havia voltado. Falei que usasse o micro-ondas. No dia seguinte ligou-me de novo. A comida das meninas não ficava boa. Comprei um forno elétrico que mandei entregar lá e passei diversos endereços de delivery. Agradeceu muito, mas falou que era puxado. No dia seguinte de manhã veio uma nova: a TV não funcionava. Desta fiquei irritada e garanti que o casal belga que havia ocupado antes havia dito que estava tudo perfeito. Ela garantiu que não havia sido estragada por eles. Besta, burra que sou. Por que achei que os europeus não me enganariam? A chuva teimosamente inundava o RJ. No celular outra. Estava desesperada e seu voo de volta para o Peru era dia treze e não trocavam as passagens. Pedi ao meu marido que comprasse uma nova e nós mesmo levamos.
Ao chegarmos uma menininha do tamanho de minha netinha estava na porta e gritou muito feliz: sinsol, el mar embravecido, pero latelevisión aquí .A alegria livre. Ela me derrubou geral. Percebi o esforço feito por eles para as férias, a promessa das conchas. Simples como as cores criam o arco-íris. Os prazeres da vida estão cada vez em ter mais o que temos de menos. Pedi a Nossa Senhora que mandasse o sol. Que as crianças sentissem no corpo o salgado do azul.
Acabei de fazer um bolo de chocolate. Vou mandar entregar. Hoje o astro- rei deu as caras.
Há muito não fazia as pazes comigo. Parecia difícil, mas foi simples.
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 08/11/2016
Alterado em 08/11/2016