Querido escritor

Rosa Pena


Sei exatamente o que você sente quando tem um texto seu roubado, adulterado ou ignoram sua autoria. É ter um filho seqüestrado, não importa se feio ou bonito, desaparecido depois de ter sido parido com tanto amor. O pior é tentar pagar o resgate com palavras vindas do coração e perceber que o vento da frivolidade venta mais forte. É lutar pela verdade em tempo de mentira.

Mais a gente tenta fazer direito, mais recebemos. Pena que na proporção do que existe por aí.

Considerando que o mundo anda muito doente, essa harmonia é bastante ingrata. Talvez dez mentiras para cada uma verdade, eu disse talvez, pois quem sabe agora nem exista mais verdade. Até porque “honestidade” se tornou “out”. Reina agora o engodo ou a prudência social que significa ignorar, ficar “na sua”, para não se comprometer. Omitir-se é a regra básica. Agredir é a regra geral. O negócio é se projetar não importa de que forma. O mundo virtual é espelho do dia-a-dia. Se a carne humana para tantos de nada vale, de que valerá nomear que Poética é do Manuel Bandeira, Construção é do Chico Buarque? Até o lirismo piratearam e olha que ele aqui no computador, não rende dinheiro. Imagina o que não fariam com os rins do autor.

Nesse mundo de zumbis entorpecidos, remar contra a maré é para poucos: Os loucos inconformados que ainda conseguem imaginar em 2040 crianças banhando-se em cachoeiras, meninos aprendendo com índios, rapazes sem bater em prostitutas, ursos polares brincando no gelo, musas que não são 
tchutchucas nem Amélias, mortes como fim natural de vidas e não interrompidas por vontade de alguém em se distrair com games novos feitos do sangue de algum passante da via real.

Mas, ainda assim, é preferível apagar milhares de vírus e se esquivar das agressões diárias a se juntar ao rebanho que chuta cachorro morto e depois envia mensagem de amor do Vinicius sem o nome dele. É aquela máxima que na vida nada se cria, tudo se copia? Será, então, que esses mensageiros que adoram tirar e mandar textos sem autoria são cópias do intelecto do Maluf?

Enfim, mesmo com esse quadro sem tela e de moldura roubada, jamais desista da poesia. Continue a ser Passarim do Jobim no meio desse bando de pardais tão iguais! A ser cópia que seja da cabeça do raro Tom. 

Atualmente quando vejo textos usurpados ou sem autoria, sinto uma certa tristeza pelo ladrão, um coitado que paga mico, mas plenamente superada ao perceber que cheguei ao final do dia viva e com chances de ouvir Hey Jude ciente dos verdadeiros autores.
McCartney e Lennon! 

Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 09/07/2007
Alterado em 16/09/2008
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