Entorpecida
Rosa Pena
Eu não sabia que não teria mais você na primavera, acho que nem ela sabia, por isso confusa teima em hibernar as flores, insiste em molhar as calçadas do meu olhar, imaginando-se águas de março. Eu realmente não supus que ao te perder sentiria tanto frio, mas tenho certeza que o inverno disso supunha, por isso permanece forte e cúmplice da minha solidão, disfarce perfeito pro meu constante tremor. Eu jamais imaginei que sumirias de vista em plena luz de um vagabundo dia em que as folhas amarelavam.
Outonei com elas.
Triste miopia passou a sofrer meu coração. Se eu soubesse que não mais te veria, optaria por perder a visão de vez, pois eram os teus olhos que me faziam companhia a cada estação de minha poesia.
Maldita meteorologia da saudade que faz meus poemas tão glaciais.
Lirismo sem flores e nublado, porque não estás ao meu lado.
(1 de outubro de 2005)