Micro geração
Rosa Pena
Sílvia Alves Lorca sempre adorou seu sobrenome, apesar de não ter parentesco com o notável Garcia.
Achava sonoro e imponente. Quando sua filha nasceu registrou-a de forma idêntica, mas assim que a menina adolesceu assumiu o apelido de Siloca e não aceitava ser chamada de outra forma.
Sílvia Alves Lorca aceitou, mas reticente. Tempos modernos! Fazer o quê?
Quando sua princesa começou a ficar com o Mafu, Maurício Fagundes, esse tem parentesco com o Antônio, namorar é do tempo antigo, idealizou um belíssimo convite de casamento por conta da nobreza dos nomes, mas logo concluiu que este não existiria, pois o ficar virou gerúndio, eles foram ficando, ficando e ficando até chegar ao infinitivo ficar, de vez, em sua casa. Um dia anunciaram que ela seria avó em breve.
— Pelo menos no civil!
Mafu e Siloca argumentaram que registro de amor é obsoleto. Um papel não garante afeto permanente.
— E um jantar de apresentação aos nossos amigos?
— Não! O máximo que podemos fazer é levar a galera pra um rodízio de pizza!
Tempos ultramodernos (se usa no plural?)! Fazer o quê?
—Posso pelo menos contratar um fotógrafo?
—Tiramos com a digital e colocamos no face!
—Então quando meu neto nascer vai se chamar Mafuloca, não vai ser batizado e os retratos só vou poder ver em blogs?
—Retratos?
—Retrato era aquilo que andava dentro da carteira, no tempo em que se podia usá-la com dinheiro e documentos!
— Ah! Num esquenta não. Tiramos fotos no seu celular.
— O choro dele só no youtube?
Tempos contemporâneos (com ou sem plural) vá se foder!
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 11/06/2007
Alterado em 05/10/2017