Chevettão 

                       Rosa Pena 

Ele era muito cafona, brega demais, mas com uma cara de cafa que Deus me livre! Ela fingiu que num tava nem aí pros olhares à la Magal dele, mas entendeu o porquê da Ana Maria Braga ter se casado com o tal segurança. Lembrou-se do Osvaldinho, seu maridão, finíssimo (em tudo), educadíssimo que, ainda por cima, chamava-a de mãe junto com os filhos.
— Mãe hoje tá lindona, né, crianças?
— Mainha hoje caprichou na lasanha.

Não tinha analista, encontro de casais, férias no Caribe, que fizesse a crise passar. Acostumou-se a chamá-lo de painho e pronto.
Olhou desta vez só pras mãos do bronco, que consertava a máquina de lavar. Dedo de delator! Indicador duro! Imaginou o resto rapidinho e perguntou se ele consertava geladeira, batedeira, enceradeira, frigideira. Ele afirmou que já tinha consertado até a Feiticeira. Combinou então os consertos pra todas as quartas-feiras, às 10 da matina, hora em que painho já tinha ido levar os filhotes pra escola e tinha reunião no sindicato dos catadores de ostra.

Os reparos levaram três meses, tempo para ela ter alta na terapia e ganhar o certificado de esposa perfeita nos encontros de casais.
Ultimamente o par não tem mais crise. Ele nem liga pra nova mania dela de chamar pintor, encanador, eletricista e similares, sempre às quartas, por volta das dez da matina. Ela passou a gostar de artigos populares.

Olha para todos os Chevettes do planeta. 



Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 14/09/2005
Alterado em 05/12/2009
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