(foto: Rosa Pena e Nazi)
 
 
A invasão da paz 
Rosa Pena 
 
A água é pouca. Tem que cavar poço e dessalinizar. Peixe é muito. 
Uma areia imensa. A vazante faz com que a água fique represada nos recifes. Eles chamam o fenômeno de “maré morta”. Sobram conchas, muitas, um sem fim delas. Lindas de doer. 


Conheci Nazi catando-as. Eu caminhava pela praia e pegava algumas para minha neta. 
Ela ofereceu-me um monte e depois caminhou comigo até a porta de sua casa. Aberta para todos a qualquer hora, mesmo sem ninguém a tomar conta. Lá não se fecha porta, nem se grita. Será que foi inspiração para o paraíso? 

Encontrei uma infinidade de trabalhos maravilhosos de outros artesões do lugar e muitos feitos pela minha nova amiga, com escamas de peixe e conchas. Ainda que não fossem lindos, seriam pelo momento, mas eram realmente de uma beleza extraordinária. Abençoados. 
Sem precisar provar nada a ninguém me convidou para entrar e me deu mangas tiradas do pé naquele instante junto com  a paz do silêncio (eu sempre quis o silêncio das línguas que nada têm a dizer). 

Mostrou-me com sua serenidade o encanto que a vida tem, com pouco no bolso e muito na alma. Fui à casa de Nazi todos os dias em que estive em São Miguel dos Milagres. 

No último dia pedi uma foto e ela me ofereceu um pente que emprestava a todas que ali passavam. 

O pente limpinho. Meu coração também.
 
 
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 26/02/2014
Alterado em 26/02/2014
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