Sabe como é se preparar para uma festa muito importante como por exemplo o casamento de uma filha única? Relembrar cada momento que passou até chegar este momento tão especial? Nossa cria vai fazer seu vôo solo. Abriu a gaiola.
Vem em avalanche cada instante vivido. A espera doída, o enjôo enjoado que por vezes nos tira um ano de vida, a barriga que leva nossa vaidade, torcemos pelo inverso, queremos que ela cresça, quase estoure de orgulho, o nascimento sempre com dores, mas o primeiro cheiro apaga qualquer aflição e fica tudo tão pequeno que a gente diz que o neném nasceu fácil, nasceu bonito por mais enrugado que tenha sido, por mais pontos que nosso ventre túnel tenha deixado de registro, por mais que nosso seio tenha explodido em feridas, abençoamos a Deus o leite que veio para abastecer nossa nova vida. As noites mal dormidas, a bolinha que pode ser uma ridícula catapora, viram lágrimas de angústia e o pediatra se transforma no melhor amigo. O primeiro aniversário, a espera na porta da escola, a estréia do filho na vida, os aplausos, as vaias que ele leva, por vezes pelo próprio não percebido, ecoam bem fortes em nossos ouvidos.
Minha escrita é minha filha única virtual. Gerada com amor, parida com dor, cresceu alimentada pelo leite que jorra de minha solidão. Ainda vai para escola, não se formou e nunca terá diploma. Minha escrita não é nova, nem antiga, nem pura, nem vagabunda, nem frágil, nem sólida.
Minha escrita é humana, passível de erros e de acertos, de aplausos e vaias. Na inauguração do meu site fiz uma festa de casamento dela com seus leitores. Tantos compareceram, não por ela ser a noiva mais bela, mas por ela ter sido educada no convite, por ela saber dizer obrigada pela presença. Minha escrita tem amigos, muito mais que eu, minha escrita voa além de mim, e já não posso fechá-la em uma gaiola.