“Quem sou eu no mundo?" Essa indagação perplexa é lugar-comum de cada história de gente. (Paulo Mendes Campos)
Eu pensei que não ia chorar mais depois que reli Alice no País das Maravilhas pelo prisma do Paulo Mendes Campos.
Aprendi que a realidade é louca e que “Quem sou eu no mundo” tem que ter qualquer resposta, ainda que mentirosa. Umazinha que seja e já dá para levar a bendita vida adiante.
O Paulo também me ensinou que aqueles que suspiram e respiram tristezas são uns chatos, e que essa de dizer "minha vida daria um romance" serve para todos, pois qual é a vida que não termina em morte e qual é o romance que não tem morte?
Depressão virou démodé depois de tantos antidepressivos, com tantas mensagens de autoajuda, ninguém mais se afoga em lágrimas. Todo mundo tem a solução para acabar com a solidão e conquistar o sucesso. Sofrimento é coisa de antes da turma do Lair Ribeiro. Agora é só repetir: - Sou feliz, pois tenho quase tudo que sempre quis. Se não tiver convencido disso repete mais cem vezes sem vergonha na cara e com um sorriso à Sílvio Santos. Se faltar algo na sua vida pense positivo como a Poliana: Melhor perder o esmalte do que perder a unha (essa é foda!) e coma coma pizza napolitana (essa é porque eu adoro).
Por isso eu tinha quase certeza que eu não iria ficar triste com mais uma derrubada da existência, bastava ficar no espelho repetindo que a vida é bela, que o triunfo virá a qualquer momento, que o Al Pacino não se casou comigo nesta vida, mas nas próximas eu tenho chances.
Segundo a Glória Perez, em suas novelas, quando morremos ganhamos o privilégio de passear por aqui de vez em quando, dar uns beijinhos no gato escolhido e etc e tal. Conclusão: levamos vantagem, pois a gente curte os dois lados, enquanto que vivos é porrada toda hora.
Então, não sei porque ontem eu chorei um rio, daqueles que salvariam o nordeste, realmente não sei como consegui perder a medida da dor e ultrapassar a fronteira dela, se nem passaporte de infelicidade tenho. Entrei na fossa como ilegal ao pensar que cada dia que passa precisarei de menos lugares à mesa, os beijos roubados acontecerão só em filmes, o fio dental virou faixa ortopédica, a lente aumentou, as vagas de carro diminuíram (como ficou ruim de estacionar) e alguns imbecis ainda chamam isso de idade feliz (é su madre).
Faltou-me modéstia na dor. Almejar que ela seja maior que a dos outros é típica dos chatos de plantão. Alice com crise de chatice?
Agora espero ansiosamente que venha a sentença pelo crime. Que ela seja a obrigatoriedade de um sorriso e que eu consiga achar que é blasfêmia sentir tantas saudades do passado.
Por fim que minha vida não valha um romance, apenas um conto, de preferência cômico. Para que conste nele coloquei o nome de Lair Ribeiro no rato que mora na garagem do meu prédio.
novembro de 2005
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 16/07/2013
Alterado em 16/07/2013