Quero que se vá. Não aguento mais este teu jeito altivo e alheio. Estas tuas paranoias contemporâneas. Malditas manias recém-adquiridas, ou sempre as teve e eu não as via?
Estupidez fora de hora, arzinho debochado, um pouco caso danado com minha poesia, uma irritação incrível com minhas novelas, reclamações contundentes do meu tempero, sempre soube que eu não pilotava bem o fogão.
Teu esquecimento total de beijos, tua preocupação com a conta do celular, tua raiva de minhas calcinhas esquecidas no box, este ódio por cigarro, típico de ex-fumante exasperado para voltar a fumar, tua implicância com a cor dos meus cabelos.
Tua intolerância comigo chegou ao limite!
Aprendi a te odiar tanto quanto me odeias, mas somos civilizados.
Não vamos discutir separação de bens. Podes levar tudo que te apraz e que consideras de direito. Adoras o faqueiro? Leve-o inteiro. Leve a TV de vinte e nove polegadas, o DVD, o freezer, o micro-ondas, o carro.
Faça tua mudança, dê as costas ao nosso passado. Finja que fomos apenas um caso banal, sem meio, apenas princípio e final.
Peço que deixes apenas o teu travesseiro impregnado do teu cheiro.