Não sou He-man
                              (perdi a força)


                                          Rosa Pena 


A vida não tem ensaio. Essa frase ouvida ao acaso martelou em meus ouvidos, noite adentro. É!!!!! A gente nasce no palco, nu, descalço, coadjuvante dos nossos pais, para que eles ganhem a estatueta, os aplausos. Aos poucos vamos ganhando a cena, roubando o brilho até virarmos protagonistas. O cenário não é nosso, daí o Joãosinho 30 fazer furor em Nilópolis, e a Chanel em Paris.In loco, plano geral, o planeta é o mesmo ou não é? Nessa questão permaneço em dúvida. A mesma Terra que fabrica Ghandi, fabrica Bin? Não vou tentar achar lógica, pois fico maluca, apesar de ter que contracenar com militantes do PT, que cismam de dar lógica à loucura. Fato é que na minha apresentação única, no meu show de vida, eu gostaria de ter podido pelo menos escolher algumas coisas fundamentais para o bom andamento do espetáculo, para merecer o Mambembe. Quem está levando até agora é o Beira-mar e seus pupilos. Bush e Cia levam o Oscaralho

Não estou reclamando do meu cenário. Nasci num país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza! Que beleza! Concordo com o Jorge do Bem, o Benjor. Também não vou reclamar dos recursos de meus produtores. Vim classe média. Maquiadores foram bastante razoáveis comigo, não sou a Bündchen, mas num rodeio o peão me segura. O problemão é o roteiro. Meu personagem tinha que ser burguesa- alienada- míope. Esse detalhe passou batido pela direção. Fui colocada numa nação de dirigentes que sofrem de miopia, com um povo que agoniza à vera com os olhos do Clark Kent. É uma merda a gente enxergar demais. A época também é um inconveniente que não consigo reverter.Queria ter nascido há dez mil anos atrás como o velhinho do Raul Seixas, para saber não tem nada nesse mundo que eu não saiba. Eu só sei que nada sei. Pirei!!! 

Eu andei pensando nos presidentes que eu vivi por aqui, pois deixei de ser criança na ditadura (os outros eu só tive que decorar pra passar na escola), e o primeiro que não seria um déspota “não esclarecido”, era o Tancredo Neves, que a morte mudou o enredo. Tive o Sarney, o Collor, o Itamar Franco, o Fernando Henrique e o Lula lá, que ficou aqui! Analiso com os malditos óculos do Clark, e concluo que o topetão, que abraçou a sem calcinha na avenida, foi o melhor presidente da minha vida até o momento. Duro aceitar essa realidade histórica. Itamar!!? Um vice, que entrou mudo e saiu calado, que não fez porra nenhuma! Francamente o Franco-Itamar? Prefiro o De Niro, em Franco- atirador. Passo batida pelo Fernandinho que teve seu show e reprise. Perdeu a vez, virou freguês no uns- dois; três mandatos é demais! 

Devia ter nascido o personagem do Al Pacino em Perfume de Mulher acrescida da Liv Ullman em Persona (mutismo a tudo que a rodeia).
Estou sem script! Dureza escrever minha biografia sem heróis do bem. Não precisava ser um super, não precisava ser fortão. Bastava não por a mão em mensalão. Apenas um cidadão honesto.Missão impossível?
Troco a fita now

Vou rever Dia do Chacal. Baixou uma vontade filha da puta de ser ele, e merecer o Urso de ouro. Nasci em tempo de ursadas com os óculos do superman, sem poder  exercer cidadania. Perdi a força pra um novo sufrágio. Quero um naufrágio. Que venha o Titanic II com um torneiro mecânico de comandante. De preferência com um The end um pouco diferente. Sem sobreviventes. 


2005


Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 16/08/2005
Alterado em 03/10/2008
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