Ela
Rosa Pena
Ela não estava atrás de sexo. Não era isso que faltava em sua vida.
Apesar de nunca ter tido uma beleza exuberante, Ela sempre atraiu para si olhares sequiosos de tesão.
Seu corpo era o que os homens definem como gostoso. Seu olhar, um eterno enigma que os cavalheiros que passaram em sua vida questionaram, mas não quiseram desvendar. Ainda hoje, conserva muito daquele corpo e, por inteiro, o mesmo olhar, acrescido de uma enorme tristeza. Talvez seja a constatação de que nunca foi amada, foi tão-somente desejada.
Então, olha melancolicamente para o passado e revê sua vida. Inúmeras vezes ouviu sussurrarem em seus ouvidos que suas coxas eram maravilhosas. Porém, nunca ouviu que suas palavras eram valiosas.
Eles passaram em sua vida olhando seu empinado traseiro. Nunca pararam para ver seu coração altaneiro. Sempre acharam que seu olhar era de desejos horizontais. Nunca questionaram se seria de indagações espirituais.
Esperou até quase a metade da vida por um guerreiro que batalhasse na descoberta do segredo de seu olhar.
Ele não apareceu.
Ela abdicou a espera.
Hoje, tem certeza de que não encontrará aqui, em solo firme, o portador da resposta. Pois sabe que a cada encontro de ruas se fazem esquinas, e sexo se acha fácil nelas. Mas amor, amor mesmo, só se alcança nas estrelas.
Quem sabe um dia no lugar das três-marias não estarão cinco?
As três, Ela e seu amado.
2001
Livro: Com Licença da Palavra