Abrace-me pelas ruas, no passeio público sujo de folhas secas, por debaixo dos postes, pelas esquinas entre sombras e luzes, encostados nos eventuais muros, nos becos insanos que nos provocam.
Carregue-me em seu colo para ultrapassarmos bueiros sujos, pavimentos irregulares, poças de água escura, sinais quase abertos, entre taxistas estressados que gostariam de pilotar jatinhos.
Beije-me pelas nesgas de céu que pulam entre as construções, diante dos mendigos com seus vira-latas chamados Rex, nos fundos da pastelaria do chinês cheia de cheiro de fritura, entre os embates dos apressados que nunca viram o arco-íris, dentro dos ônibus lotados, perante o olhar dos camelôs vendendo Suflair, pulando o bebum deitado no meio-fio, entre as flores safadas que nascem nas frestas do concreto, tentando esquecer as buzinas fastidiosas que querem desviar-me de sonhos, em aeroportos lotados (mas sem partidas), pelas avenidas litorâneas com muito cheiro de mar...
—Posso ajudar? —Nem percebi que cai. —Segura a minha mão que te levanto. —Como conseguiu escapar dos meus pensamentos de agora agora?
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 06/01/2013
Alterado em 08/01/2013