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Antes só do que...
Rosa Pena
Ele sabia que ela viria com aquela de advinha a minha idade.
Ele chutaria quarenta e seis, mas uns sessenta e quatro desceriam bem mais redondinhos. Mas, para não passar mais uma noite só, sabendo-se barrigudo, careca, corno, falido, antes essa de graça do que a humilhação de pagar companhia.
Ela avisou bem alto do xixi. Viu-a se levantar com sua saia de puta, as varizes bailando nas pernas, um riso alto pro nada, pagodeando pros homens do salão. Sentiu nojo de si e pena dela. Havia virado medalhista de ouro na maratona dos babacas. Embora nada lhe devesse pensou que deveria fugir rápido dali. Chamou o garçom que atendia outra mesa, pagou às pressas, deu um último trago na bebida (esse gole é áureo) e saiu voando antes que a pobre coitada voltasse.
Correu pela avenida beira-mar até perder o ar. A dor insuportável no braço. Caiu no chão. Sentiu nitidamente a vida se despedir dele. Ainda conseguiu balbuciar: - Melhor morrer só do que mal acompanhado.
A ambulância, que algum filho de uma égua chamou, chegou rápido demais. Oxigênio, massagem no peito...Merda! Agora vai perecer sozinho numa UTI.
Mania de se meterem até na morte alheia!