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Antes só do que...

Rosa Pena

 

Ele sabia que ela viria com aquela de advinha a minha idade.
Ele chutaria quarenta e seis, mas uns sessenta e quatro desceriam bem mais redondinhos. Mas, para não passar mais uma noite só, sabendo-se barrigudo, careca, corno, falido, antes essa de graça do que a humilhação de pagar companhia.

Ela avisou bem alto do xixi. Viu-a se levantar com sua saia de puta
, as varizes bailando nas pernas, um riso alto pro nada, pagodeando pros homens do salão. Sentiu nojo de si e pena dela. Havia virado medalhista de ouro na maratona dos babacas. Embora nada lhe devesse pensou que deveria fugir rápido dali. Chamou o garçom que atendia outra mesa, pagou às pressas, deu um último trago na bebida (esse gole é áureo) e saiu voando antes que a pobre coitada voltasse.

Correu pela avenida beira-mar até perder o ar. A dor insuportável  no braço.  Caiu no chão. Sentiu nitidamente a vida se despedir dele. Ainda conseguiu balbuciar: - Melhor morrer só do que mal acompanhado.

A ambulância, que algum filho de uma égua chamou, chegou rápido demais. Oxigênio, massagem no peito...Merda! Agora vai perecer sozinho numa UTI.

Mania de se meterem até na morte alheia!

Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 01/09/2012
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