Coração à Louis Vuitton

                                Rosa Pena





 
Como é farta a alimentação fornecida pelo imaginário. Coloco-o como eu quero. Louro, alto, sorridente, algumas pequenas sardas, talvez até uma barba. Coração tem barba?
Bem, como é minha criação exclusiva, coloco o que eu quiser. Não temos atritos, frutos da convivência, muito menos, dependências. Temos a cumplicidade da semelhança de intelectos e a forte atração pelo desconhecido. Apenas isso. Talvez um pouquinho mais...
É, reconheço que existe um “clima” parecido com o meteorológico. Clima do encanto, que varia de acordo com o lirismo. Ainda não ocorreram tempestades, mas chuvas esparsas no período, sim. Daquelas chuvas boas que regam os olhos e o coração. Fica registrado, porém, que na maior parte do tempo faz sol. A temperatura é bastante amena, salvo calores súbitos de uma balzaquiana. Gosto dele. Não necessito dele. Tenho plena convicção!? Para chegar onde quero ir, um fusquinha dá. Para ver as horas, basta-me um Technos, até mesmo made in Paraguai. Ele é Ferrari, é Rolex. Supérfluo? Jamais! (leia em francês, please). Paixão é luxo.
— Mãe, me empresta o micro?
Yes! Vou preparar o jantar.
— Não faz omelete de novo. Ninguém merece!
Até quando o fusquinha agüenta?
Por que meu relógio todo dia arrebenta?
Tomara que eu ganhe logo na loto, e consiga comprar a coleção inteira do Louis Vuitton. Meu coração anda cansado das roupas da C&A.
Corações podem ter extravagâncias amorosas? Podem se dar ao luxo de um adereço diferente, ou só trabalham com o básico? Uma paixão nova é um Louis Vuitton no coração! 




LIVRO UI!
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 29/07/2005
Alterado em 05/12/2009
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