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Vida louca louca Vida
 
Rosa Pena
 
 


Estranho que ele não percebesse falha alguma neles já no final da relação. Chegava nela como se tudo fosse exatamente igual aos primeiros dias, em que qualquer coisa tem graça, até comer pastel sem vento. Sorria feliz como se ainda tudo fosse perfeito por estarem juntos neste mundo, apesar de que, para Paulo, o mundo era feito de dois. Rejane e ele. Ele a amava, isso por si só não bastava?

Sempre usou filtro solar nas palavras para que não queimassem sua face de amante perfeito. Dizia que ela era linda, que eles eram idênticos, completos, possuía-a com sofreguidão, mas ela?
Ah! Teimosamente não conseguia esquecer que o mundo já teve torres gêmeas e que elas foram abatidas justamente no país dos perfeitos!


Ele ainda tentou mudá-la, que almejasse apenas tê-lo, nada de outros planos que não fossem os dois juntinhos, porém a destemperada ainda possuía algumas aspirações, como ver um papa negro, filhos casados, netos, uma África sem AIDS, um Brasil alfabetizado... Louca, louquinha da silva, coitada. Estresse é mais que uma droga é dupla droga. Por que não lhe bastava um “cantinho e um violão, um amor e uma canção?” Por que não? Maluca! Ta pensando que vai salvar quem?

 Do que não se vê o que sabe o outro de nós? Nada, absolutamente nada. Imagina o que lhe apraz, por mais indícios que possamos dar de como são nossos mamilos cerebrais, o silicone da insensatez do amante aumenta-os para o tamanho certo que lhe caiba nas mãos e a plástica da conveniência os diminui se excederem os dedos do desejo. Que sabe um do outro, até mesmo quando está estampado na cara, se não queremos ver?

O tempo deles foi o tempo de uma novela. Alguns capítulos a mais e um final previsto por ela desde o início, porém inesperado para Paulo. Ele achou que amou demais uma deprê irrecuperável. Ela deixou-o pensar assim, na forma descansada e infantil tão dele. Um cantinho e um violão, jamais seria o suficiente. Não, não e não. O amor vai muito além de quatro paredes.

Algum dia terá paz na Síria?


Mudar a fechadura do coração quando ainda se ama o dono da chave é nostálgico, mas refugar e viver o feio com a memória voltada no que já foi bonito é deprimente. Mas, sobreviverão sim, como anjos sem asas, corredores sem pernas, amamentando outras ilusões de amantes perfeitos, ela com suas nóias, ele em sua eterna adolescência, sua comodidade em achar que é facílimo ser feliz. Afinal, raras e belas, as aquarelas sobreviveram a insana era digital.

Regina eternamente em buscas. Paulo devagar, devagarinho (muso do Martinho da Vila) vai achar uma amante apropriada, que sempre sorria contente em viver só do amor dele e quem sabe, andar numa bicicleta com cestinha.


Será que ela sempre será imprópria para menores?

Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 25/07/2012
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