Sou medrosa com mudanças. De estado, país, casa... É sempre uma despedida, ainda que para um lugar mais atraente. Dar adeus às paredes, que, em muitos momentos, me ouviram e apoiaram? Sacanagem!
Penso nos móveis que já estavam habituados ao antigo ninho, até porque foram escolhidos para cada cantinho. A serigrafia do Volpi foi comprada para disfarçar o dente da velha sala. Viu? A coitada já ganhou adjetivo pejorativo. Living da terceira idade fica melhor. Tenho pavor a tudo que tenha cheiro de definitivo. Adoro viajar com a certeza da volta, aliás, sempre que estou fora sonho com meu travesseiro.
Um lar. Desmontar uma morada (testemunha de tapas e beijos) significa a mal-intencionada passagem do tempo. Embrulhar discos expressa empacotar o passado, enrolar a louça é cutucar o que não volta. Sinistro esse meu receio dos momentos que ficaram perdidos atrás do meu criado-mudo e que eu não tentei resgatar na época. Imaginei que depois alcançaria. Depois? É um ser fantasmagórico, um monstro dentuço cujo dente do siso se chama desmemoria. O tal provérbio “não deixe para depois” é prudente. Deixou? Dançou. Ninguém volta nem para apagar a luz do quarto! Prefere pagar a conta. Ela pode ser alta, ah... e como!
Retorno ao fato de não suportar mudanças, mas com a consciência que não são elas que desconstroem uma história. Possuem o gosto salgado das lágrimas, mas sem a responsabilidade da gente ter a sensação de estar pra lá deMarrakech. O grande vilão da existência é, sem dúvida alguma, o tempo: Senhor da Sina que profana tudo que vê pela frente sem pudor algum. Rosto, corpo, alma, destino, amor, esperança, disposição...
A troca de espaço pode até ser boa, mas as consequências numa idade avançadinha são complicadas. Os hábitos ficaram fincados no ontem.
Droga, droga e droga! Cada ano ganho é lucro na existência, mas paga-se juros e correções. O calendário é um agiota filho da puta que emite a cada dia novas impossibilidades. Lombinho é bom demais, mas o colesterol! Suspiro por suspiros, mas a glicose! Já usei salto dez. Atualmente um cinco é uma farra que deixa seqüelas no dia seguinte. Correr, nadar, pedalar é bom demais, mas esgota. Estão achando que estou alquebrada né? Acabada está a mãe do Demóstenes ou...
Cheguei de viagem semana passada. Na Espanha a sesta é tradicional (o sono durante o dia). Sabe que adorei a ideia! Dos sete pecados capitais, atualmente, estou fissurada na preguiça. Uma cochilada depois do almoço! Ui!
É luxúria. Você virou vice! Mas nada de inveja, senão quem peca é você.
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 02/05/2012
Alterado em 08/05/2012