Celebração da Esperança
Rosa Pena
A música soa gostosa, feita para gente dançar no ar sem se importar com nada que não seja a lua que espia.
A garotinha inventa uma letra e canta feliz como se tivesse uma platéia imensa a lhe ouvir. Atrás dela há uma janela de onde se pode ver o imenso living cheio de adultos conversando com sorrisos sem risos e mãos segurando taças com espumantes. No fundo uma árvore lotada de presentes.
Uma mulher solitária cria olhares de efeito para um garçom bonitão e um homem, de óculos embasado, escreve no vidro da janela o nome Virgínia, certamente um amor perdido. Um casal caminha até o bar ao fundo da sala, acompanhados pelo temor do que virá depois dessa crise dos sete anos. E se tiver dos oito, nove, dez?
José conserva seus braços no balcão, com a barba e cabelos por fazer, e nos olhos a eterna expressão de calma. Hoje eles brilham mais forte com a espera do grande evento. Uma foto na mão de alguém que se mantém invisível para quem não tem espírito para entender o segredo de unir a linha da cabeça com a do coração em cada batalha da vida.
Maria, ao longe, sorri com cumplicidade para ele. Ela sabe o grande amor que se esconde no protagonista da misteriosa da foto. É tão amplo, tão forte, tão poderoso que quebra toda e qualquer barreira, e consegue recriar anualmente o desfeito por nós.
Ah! Virgínia chega de repente e os olhos dos óculos embasados brilham. Conflito dos oito anos? O filho que virá não dará essa oportunidade. O garçom gato? Piscou para a solitária. O galo finalmente vai cantar na missa dela.
A lua é crescente, a garotinha será uma nova Nina Simone, Billie Holiday, Ella Fitzgerald, o som das músicas sempre afrouxaram os corações.
Os risos retornaram aos sorrisos. Quase meia-noite... Ele vai chegar.