Uma ótima fotografia, uma trilha sonora dramática, um cenário perfeito para contar uma história maldita de boa e ainda assim me senti encarcerada na pele de fã do Almodòvar com roteiros de sua própria autoria.
Tentei me abandonar à tensão forte (genial) que o filme impõe, porém nosso passado (meu e de Pedro), em que eu me sentia segura em qualquer trajeto que ele se entranhasse, não deixou que ela rolasse plenamente. Algo ficou me cutucando que faltavam as loucuras cotidianas (sem grandezas cinematográficas que com ele ficam imensas) tão típicas desse cineasta espanhol que só de olhá-lo tocam mil castanholas em minha cabeça.
Muita pimenta num pedaço de carne e lágrimas que não se acabam mais, algumas inesquecíveis, como a do no filme Volver em que a filha ao sentir um cheiro estranho, chora copiosamente porque o odor é idêntico ao peido da mãe morta. Só ele é capaz de colocar muitíssimo bem essa irreverência. Saudade não se sente só pelos odores de cravos!
Assisti A Pele que Habito em duplo suspense: Pelo próprio roteiro e pelo momento em que Pedro praticaria uma dessas suas genialidades. Para me deixar mendigando de pires na mão, ele me acenou que elas surgiriam a qualquer momento. Ah! A cena em que a menina brinca distraidamente no jardim e desperta a mãe cantando os versos de "Pelo amor de amar" (música brasileira) é fabulosa (a filha é que é a sereia da mãe) ou na súbita fantasia erótica de onça-pintada de um dos personagens em plena Toledo (cidade histórica espanhola).
Mas... A Clínica é tão limpa, a comida tão sanduíche, as pessoas falam tão baixo que permaneci a espera da lingüiça frita na calçada, do grito escandaloso fora de hora, do arroto em plena mesa, do ódio cheio de amor entre os membros de família, do salto bem alto da mulher sem costumes.
Sim eu sei que é um thriller, sim, também sei que tem sido aplaudidíssimo, que ele experimentou uma temática diferente e a fez com perfeição, que algumas de suas características famosas estão lá, como as cores quentes que saltam aos olhos, a trilha sonora de Alberto Iglesias, parceiro antigo dele. Sim, eu sei e também festejo o sucesso do meu guru, mas permaneço à espera dele!
O filme é um filmaço, mas Pedro não veio inteiro. Faltaram alguns pedaços de sua pele. Acho que essencialmente da sua cútis feminina, que fica ruborizada na baiana que existe em todos nós e volta e meia desanda a rodar a saia rubra.
Acho que nesse filme ela estava nos States.
A Pele Que Habito
Baseado no romance 'Mygale', de Thierri Jonquet
Direção:
Pedro Almodóvar
Elenco:
Antonio Banderas, Elena Anaya, Marisa Paredes, Jan Cornet e Roberto Álamo
Nome Original:
La Piel que Habito
Duração:
120 minutos
Ano:
2011
País:
Espanha
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 17/11/2011
Alterado em 20/11/2011