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Operar com ofertas sempre acima dos 50% (chegam a 90%) nas mais diversas áreas de serviços, (predominam as que usam a vaidade como chamariz), gastronomia, lazer, diversão, turismo, começou como trabalho de observação e pesquisa para esquentar o comércio nos EUA. Nessa busca foi percebido um hábito chinês. Lá, consumidores forçavam o desconto de determinados produtos pela presença em massa à porta das lojas, obrigando os lojistas a diminuírem o valor. Na busca de formas para legitimar esta pressão do consumidor, nasceu o conceito de compras coletivas, que permite um benefício comum aos compradores, um ganho imediato para o intermediário e os fornecedores lucram na quantidade de vendas e, principalmente, na divulgação em grande escala de seu estabelecimento, produtos e afins.
Essa prática ganhou espaço nos EUA em 1990, mas em dois anos fracassou, voltando a ressurgir entre 2000 e 2002, aí já contando com a Internet e suas redes sociais, fundamentais para o sucesso dessa venda “no escuro”. É uma área para a qual ainda é precoce determinar "como um bom ou um mau negócio" tanto para a empresa como para o consumidor. Por enquanto o intermediário está levando. Sempre!
O conceito de compras virtuais depende das parcerias que obviamente deveriam seguir a risca a propaganda levada ao público. Ah! Não é bem isso que vem acontecendo por aqui. A pessoa física paga antes por um serviço e em inúmeras vezes sequer consegue falar com o vendedor, que dirá usufruir da forma prometida por aquilo que já pagou.
A satisfação do comprador sempre é o que menos importa no Brasil, o que acaba comprometendo a visão otimista de um crescimento como em Hong Kong, (gera lucros exorbitantes). Lá o prestador de serviços é obrigado a oferecer exatamente aquilo que foi anunciado ou é multado e, por vezes, perde definitivamente o benefício das vendas em grupo.
Que dó! Aqui, como sempre, não existe a máxima dessa proposta: Fidelizar um público e conseguir o óbvio que é gerar receita pelo aumento de volume, divulgar um produto ou serviço, pois permite ao consumidor experimentar a um custo reduzido e se gostar, voltar, espalhar entre amigos, incorporar aos seus hábitos ainda que por preços maiores.
Penso nos lucros e nos prejuízos que tive ao fazer compras coletivas. Precisava consumir para saber do funcionamento. Sou extremamente ativa e curiosa, navego demais na internet e não há como passar impune diante de tantas ofertas então...
Fiz uma viagem fantástica no verão por um preço reduzido. Meus cabelos estão totalmente quebrados depois de uma hidratação prometida com um dos melhores produtos do mundo e feita numa caneca sem rótulo. Jantei (muito bem) num restaurante em Laranjeiras assistindo a um grupo excelente de blues, mas fiquei horas numa fila para almoçar uma feijoada no Leblon. As massagens estéticas corporais que prometiam redução de medidas levaram meu dinheiro e deixaram as minhas gordurinhas no mesmo lugar, apenas machucadas. A academia de natação não tem um horário satisfatório e o cupom já vai vencer, a limpeza de pele durou menos de dez minutos, mas meu Fotolivro ficou lindo!
Lastimável não ter como, nem com quem reclamar, pois ninguém quer resolver nada. Só faturar. Mais lastimável ainda é que entre lucros e prejuízos nasceu a dúvida, o temor e o desânimo de pagar pra ver. É preferível eu continuar comprando meus sapatos do tamanho exato do meu pé e para dar certo tenho que calçá-los antes.
Vai que, de repente, viro sapatão por conta de alguma phodacoletiva.
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 06/09/2011
Alterado em 13/09/2011