Tapas& Beijos
Rosa Pena
— Quem quis vir foi você.
— Não estou falando disso.
— Xixi de novo?
— Não tenho culpa se sinto vontade toda hora.
— Aqui não tem banheiro, mulher.
— Eu não agüento esperar!
— Caraca, nunca vi ninguém fazer tanto xixi.
— É a menopausa.
— Sempre fez muito.
— Descendentes de libaneses fazem muito.
— Leu isso na net?
— Não li. Inventei.
— Vai ter que esperar até o hotel.
— Este frio me deixa aflita!
— Vive sentindo frio e calor.
— Climatério!!!
— Sempre sentiu!
— E você achava lindo antigamente.
— Vamos correr, começou a pingar.
— Eu te odeio... Soletro para você: O.D.E.I.O.!
— Mas quem quis vir foi você.
— Para de repetir esta merda e segura minha bolsa.
— Quem mandou comprar toda a cerâmica nordestina?
— O bumba-meu-boi tava de graça.
— E as cangas, o maracatu, as toalhas rendadas, a bolsa de palha, as lembranças do além etc.?
— Não sei se voltarei a Pipa, então levo parte dela.
— Agora eu, que nem um babaca, segurando bolsa, chapéu, tendo que subir esta ladeira maldita e você querendo fazer xixi.
— Pára. Isto “eram” nossas férias, nosso reencontro.
— Corre, despencou a chuva.
Ele saiu correndo e eu fiquei parada na chuva. Sentia um frio enorme.
Dei a volta e comecei a andar para o lado contrário. Fazia xixi pelos olhos.
Acabou tudo, tudinho.
De repente senti um calor gostoso. Braços que me envolviam.
Fui pega no colo e envolvida na Hering branca dele.
Rolou um beijo delicioso debaixo de um temporal.
— Libanesas fazem muito xixi e beijam divinamente.
— Eu te amo. Soletro: A.M.O.!
Deliciosas férias!
Reencontro?
Nunca nos perdemos!
junho de 2004
Livro PreTextos