Obs.
Rosa Pena 

No início ela foi o objeto direto do sujeito, fazia parte da oração principal dele, mas não se sujeitou a ficar só nisso. Queria estar sempre ao seu lado, então puxou tanto o saco dele, que virou seu predicado. No auge da paixão ela chegou ao status de predicativo. Aos poucos, foi virando oração secundária, depois apenas um aposto, tipo encosto, colocada entre vírgulas. Quando deu por si, já não fazia mais parte do contexto dele. Fora do texto, virou apenas uma observação no final de um papel com anotações de compras, entre frangos e sabonetes, rabiscada pela inconstância dele.
 
 Ela sabe que a qualquer momento o sujeitinho vai passar a existência a limpo e nem obs. será mais. Ainda tenta com mil vocativos fazê-lo voltar, mas ele arrumou um objeto novo, bem novinho, para rezar sua oração. Será que essa ajoelha mais e melhor? Nem Freud consegue fazer análise sintática dos homens, pois eles não têm regras.
Obs. da obs.: já que ajoelhou, reza logo uma oração composta.


LIVRO UI!
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 17/11/2006
Alterado em 11/07/2014
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