Bundão!
Rosa Pena
Soube por Marlene que Afonso havia morrido na terça. Ela sentiu o coração apertado e chorou muito, mas muito mesmo, pelas lembranças, eles tão juntos, tantos planos, milhares de ilusões, chorou mais e mais até se lembrar que ele lhe abandonara pela bunduda da esquina. Quanto desapontamento! Daí chorou muito, muito mesmo, de raiva, depois sentiu um certo conforto, quase alívio, por chorar por um defunto que já foi tarde e não por um maldito ex que foi cedo. É bem mais saudável! Quantas vezes não choramos por conta de um anônimo cachorro atropelado? Pronto! Estava resolvido. Saudades de um falecido qualquer. Continuou chorando muito, mas muito mesmo, só que agora de bem-estar, quase felicidade, até tocar outra vez o telefone. Marlene de novo?
— Enganou-se? O irmão dele que se foi? Ele está bem vivo? Vivinho da Silva e com uma nova siliconizada a tiracolo?
Recomeçou a chorar muito, muito mesmo, de ódio. O safado não assume nem a morte. Bundão!