O falecido


                                    Rosa Pena



Henrique morreu num sábado, no meio de uma festa de formatura no hotel Glória.
A orquestra aquecia a galera com Henry Mancini e eu estava com um vestido bordado com paetês e canutilhos, frente única, saltos altíssimos.Toda de vermelho.
Estava linda.
Ele ficou moribundo quando foi apanhar uma coca pra mim, pois eu não conseguia chegar ao buffet.
Eu havia dado um beijo nele minutos antes e dito que o amava muito. Estávamos namorando há cerca de um ano. Não era um “ficante” a mais, era o rapaz que havia me cativado, havia me deixado de quatro, totalmente apaixonada.
Como ele não voltava com a coca, resolvi ir atrás dele.
Peguei-o beijando a Júlia, uma menina conhecida nossa, quase amiga em comum.
Não gritei.
Não chorei.
Sai de fininho, bastante humilhada, dei de cara com o Fábio, um excelente dançarino.
Pedi para dançar com ele.
Acho que nunca dancei tão bem.
Ao som de um twist, matei o Henrique de vez.
O enterro?
Foi com a valsa do Imperador.
Nunca mais o vi.
Não acredito em fantasmas.


agosto de 2004
Livro PreTextos
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 25/06/2005
Alterado em 07/06/2021
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