foto:Marina
Entre a Palavra e o Ato
Rosa Pena
Marina adorava o bisavô mesmo sem entender tudo que ele falava. Ele era um brincalhão, sempre bem-humorado. Gostava de conversar com as borboletas sobre o tempo de vida. Tinha intuído que só viveria por mais uns três meses. Mas, reclamar de quê quando seu resto era superior ao inteiro dessas maravilhosas asas coloridas?
Quando ele partiu sua avó ficou preocupada com a carinha triste da menina e lhe falou bem de mansinho:
— Deus precisava de alguém que entendesse a fala das borboletas.
A menina sorriu e a vida voltou pro seu rostinho.
Mês passado foi a vez do cachorro da família. Sua avó não parava de chorar e afirmar que perdera um filho, sim, era sim, pois ele estava com mais de quinze anos, três vezes a idade de Marina.
Ela olhou para a vovó e lhe falou bem de mansinho:
— Deus precisava de um cachorro para tomar conta do céu.
A avó ligou a TV caladinha. Dizer o quê?