Segredo
Rosa Pena
— Um suco de limão.
— Um uísque com muito gelo. Você aqui???
— Surpreso com quê? Sempre foi meu local predileto.
— Podia ter mudado nestes dez anos.
— Sou conservadora em algumas coisas.
— Eu acendo teu cigarro, nunca acha mesmo teu isqueiro.
— Isto é verdade. Ainda lembra tão bem?
— Detalhes não se esquecem.
— Casado?
— Sim, e você?
— Separada de novo.
— Sem sutiã como sempre.
— E você sem fazer a barba.
— Vai almoçar?
— Sim.
— Almoçamos juntos?
— Pode ser.
— Peço aquele filé que você adora?
— Não como mais carne, virei “natureba”.
— Então, você mudou!
— Meu colesterol exigiu esta mudança.
— No mais continua com tuas manias?
— Quase todas, exceto aquelas que tinha só para te irritar.
— Continua não se enxugando depois do banho?
— Continuo.
— Escondendo a chave de casa naquele vaso?
— Fiquei sem o vaso, agora escondo em outro lugar.
— Pelo menos trocou o segredo da fechadura?
— Não, não costumo trocar segredos.
— Quer que eu vá embora? Está tão lacônica.
— Agora pede para ir? Nunca se despediu.
— Acho que vou indo, apesar da saudade que bateu.
— Ok. Tchau.
— Sem um beijo? Esqueceu tudo de vez?
— Garçom, outro suco!!!
— Como faço para te ver novamente?
— Garçom, mais açúcar!!!!!
— Vou indo mesmo, mas queria te ver outra vez.
— Garçom, mais gelo!!!!!!!
— Adeus.
— A chave continua naquele vaso, o vaso que você quis levar quando se foi. E eu não mudei o segredo.
Nunca mudo meus segredos.
2004
PreTextos
Rosa Pena
— Um suco de limão.
— Um uísque com muito gelo. Você aqui???
— Surpreso com quê? Sempre foi meu local predileto.
— Podia ter mudado nestes dez anos.
— Sou conservadora em algumas coisas.
— Eu acendo teu cigarro, nunca acha mesmo teu isqueiro.
— Isto é verdade. Ainda lembra tão bem?
— Detalhes não se esquecem.
— Casado?
— Sim, e você?
— Separada de novo.
— Sem sutiã como sempre.
— E você sem fazer a barba.
— Vai almoçar?
— Sim.
— Almoçamos juntos?
— Pode ser.
— Peço aquele filé que você adora?
— Não como mais carne, virei “natureba”.
— Então, você mudou!
— Meu colesterol exigiu esta mudança.
— No mais continua com tuas manias?
— Quase todas, exceto aquelas que tinha só para te irritar.
— Continua não se enxugando depois do banho?
— Continuo.
— Escondendo a chave de casa naquele vaso?
— Fiquei sem o vaso, agora escondo em outro lugar.
— Pelo menos trocou o segredo da fechadura?
— Não, não costumo trocar segredos.
— Quer que eu vá embora? Está tão lacônica.
— Agora pede para ir? Nunca se despediu.
— Acho que vou indo, apesar da saudade que bateu.
— Ok. Tchau.
— Sem um beijo? Esqueceu tudo de vez?
— Garçom, outro suco!!!
— Como faço para te ver novamente?
— Garçom, mais açúcar!!!!!
— Vou indo mesmo, mas queria te ver outra vez.
— Garçom, mais gelo!!!!!!!
— Adeus.
— A chave continua naquele vaso, o vaso que você quis levar quando se foi. E eu não mudei o segredo.
Nunca mudo meus segredos.
2004
PreTextos
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 19/06/2005
Alterado em 03/08/2008
Alterado em 03/08/2008
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Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.
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