L'enfant au pâté de sablevers: 1894/Détrempe à la colle sur toileH.
  Musée d'Orsay 
Pierre Bonnard (1867-1947)

          
"À Bonnard, le bonheur”


                              Rosa Pena

                                                   
para Rosa Pena



Pedro pedreiro fica assim pensando
Assim pensando o tempo passa
E a gente vai ficando pra trás
Esperando, esperando, esperando...

Chico Buarque 1965



Pedro (Pierre) sempre foi apaixonado pelo que fez. Apaixonados são portadores da síndrome da urgência, não conseguem guardar um beijo, um verso, uma pincelada para amanhã. Tem que ser já! Agora! E ainda se questionam: — Por que não foi ontem?

Pedro pintava tudo que via da forma que sentia, mas sem intenção proposital de transgressão às normas estabelecidas como arte. Simplesmente inovou de acordo com o que o tempo em que vivia, foi um dos precursores da Art Nouveau. Não fazia rabiscos sem formas, desenhava e pintava o que seu olhar captava. Olho aberto para o novo sem fechar para o antigo.

Pierre se expôs geral. Direito e avesso, para os próximos, para o mundo. Fez isso até a morte. Que delícia ter esse apetite pela arte ininterruptamente. Mal acabava de pintar uma tela já a levava para rua e decretava-a como a mais bela. Em muitas faltava algum detalhe que não comprometia o todo, mas para os experts, um erro.

Certa vez ouviu de um perfeccionista:

— A pressa é inimiga da perfeição.

Refutou na hora:

— A calma é inimiga da criação, porque na realidade você nunca está pronto para nada. Tem uma hora que urge o ponto final para não se enlouquecer.

Não quero olhar para trás e perguntar-me: "Por que eu não fiz isso? Por que não fiz aquilo? Sem culpar o tempo, sem amaldiçoar o calendário.

Consta na biografia de Pierre Bonnard que ele ia com seus pincéis escondidos para o museu onde estavam suas obras expostas. Quando o vigia não estava olhando, ele dava uma pincelada e corrigia trabalhos de até dez anos já decorridos. Feliz porque tinha exposto, jamais com desgosto. Correções? Ninguém comentou. Talvez jamais tenham percebido. Já os erros sempre foram sinalizados. Ah! Mas é tão dos inúteis caçarem vírgulas entre sujeitos e predicados. Coitados!

Chico Buarque narrou esse fato numa entrevista para a Folha de São Paulo, quando lançou seu livro Estorvo e não foi bem aceito por alguns, que acharam precoce ele virar escritor. Afirmou no final do interview. “— Já basta o meu Pedro que teve que deixar passar. Eu me identifico perfeitamente com Pierre Bonnard!”

— E eu contigo Chico! Que bom que eu escrevi e publiquei livros. Agora busco o tesão, mas ele ficou lá atrás. Lá... Naqueles momentos onde minhas letras corriam naturalmente pro o papel. Eu não precisava buscá-las. Elas vinham enamoradas. Eu vivi intensamente esse período. Me entreguei por inteira durante uma década, antes de começar esse vazio. Ah! Que bom a Rosa Pena ter seguido o instinto da Rosa e ter jogado pra escanteio a sensatez covarde dos que deixam pra depois.


As pedras pelo que fiz sempre serão infinitamente mais belas, do que milhares de flores enfeitando um túmulo com a lápide:
                                       “Bem que se quis”.

 
 
 
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 28/10/2010
Alterado em 10/04/2011
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.





Site do Escritor criado por Recanto das Letras
art by kate weiss design