Os dias são sempre tão iguais, a mesma pasta de dente, o fio dental, a xícara com o café quente, a manteiga antes do queijo, a bolsa com celular, abro o portão ligeiro, afago o cão e aviso que estou com pressa, como se isso lhe interessasse. Ouço o rádio da vizinha aos berros, sintonizado no seu programa predileto. Ruas e avenidas com os mesmos desenhos, o corre-corre de gente, meu carro velho e preguiçoso teima em não partir de primeira.
Chego ao estacionamento, reclamo do meu lugar ocupado. Coloco o crachá, rodo a catraca, entro ligeira. A pressa eterna companheira. Sento no micro, maldigo a caixa cheia de e-mails como se quisesse ela vazia. Sonho com as férias. Vou para o lugar de costume? Fecho os olhos e reflito. Quem sabe os dias são completamente diferentes, pois mudam até de estação e quem é sempre igual sou eu, que fica parada na mesma?
Por isso fui arrancada de seu calendário tão de repente. Eu sou ontem.
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 29/09/2006
Alterado em 06/05/2014