Goolllllllllllllll!!!!!

Rosa Pena


O medo não era ficar sem namorado, sem amante, sem marido, sem homem. Isso, no final, sempre se arranja, lógico que coroa e classe média, não seria nenhum Brad Pitt. Aliás, nem isso queria, adorava homens maduros. O medo, o medão mesmo, era ficar sem o amigo.

Afinal, se conheciam há mais de trinta anos. Ele já sabia da dificuldade toda para comprar o sapato de salto dela, também com um pé tamanho 33/34, fazer o quê?

Sabia das nóias dela; dos banhos enormes com o banheiro totalmente esfumaçado; da sua mania de fechar os olhos em filme de terror, mas não parar de ver; de ouvir a mesma música dez vezes seguida; de ficar na janela vendo a filha ir para a faculdade; de comprar margaridas toda sexta-feira; de trocar de xampu quinzenalmente, dizendo que não era a tinta que ressecava, e sim a droga do Seda.

Tinha ciência de que o que ela fazia bem na cozinha era comer. Que não bebia e, para disfarçar em restaurante, pedia Água Tônica em copo de caipirinha, com gelo e limão.

Por fim, ele sabia que ela não sabia se amava ele, mas também sabia que ela não viveria sem ele.

Então, ele levantou da cama do hospital e foi para casa.

Só para irritá-la, colocou o cd do Rolling Stones no maior volume – quando ela jurava que seria “Hey Jude”, dos Beatles, música companheira deles – e pediu que fizesse galinha ensopada, prato que ela odiava fazer e comer.

Ela percebeu, naquele momento, que seu amigão tinha voltado para ficar. Era hora de comemorar.

Colocou a camisa do Vasco, foi na janela e gritou:

— Goolllllllllllllllllllllllllllllll



1 de agosto de 2004
(para o meu amado Tuninho)
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 12/06/2005
Alterado em 26/09/2008
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