O Natal é vermelho
Rosa Pena
para Luiz Arthur Duarte Pereira
A mãe já estava entrando na terceira idade e começava a sentir aquela pontinha de desânimo, aquele tanto faz como tanto fez, entre eles... armar a árvore de Natal, fazer ceia.
E pensar que ela sempre fez uma questão danada de muitos enfeites, do presépio, da guirlanda na porta, de um peru maravilhoso. Foram festas lindas, fantásticas. E pensar, e pensar, e pensar! Pronto: Agora nada de pensar, muito menos navegar na nostalgia. Saudade vá procurar outro coração, pois esse não lhe pertence. Replay de Natal fica por conta do Rei RC que só varia a roupa de branco para azul ou de azul para branco. Inovar é a palavra de ordem.
O marido sempre acompanhou suas resoluções. Dos sete filhos agora só dois moravam com eles naquela casa linda e imensa. Empregados nessa época folgam. O trabalho e o silêncio dobram.
O temporão insistiu tanto na confecção da árvore que ela acabou por enfeitar displicentemente a antiga num cantinho qualquer da casa.
Como cada um dos outros filhos passaria num lugar diferente, sugeriu impondo aos quatro que fossem cear num quiosque em frente à tão badalada árvore da Lagoa. Dois toparam, mas levou um susto quando o caçulinha disse:
—Cear fora de casa? Logo na data em que as árvores armadas em casa ficam mais bonitas... O menino não nasce mais?
Foi ao supermercado comprou um tender cheia de love e muitas cerejas. O Natal é pintado de vermelho, é vida, não é luto.
Mas o Rei vai estar de azul e cheio de flores. São tantas emoções que a gente vive por mais que tenhamos quase certeza que elas se esgotaram com o tempo.