foreign?

Rosa Pena




A casa caiu.Ela caiu provavelmente porque a estrutura estava enfraquecida por infiltrações de longa data.Viga antiga, viga gasta.Aparentemente a casa parecia nova.Tipo mulher que faz cirurgia plástica.O exterior jóia o interior pronto para desmoronar.

Li outro dia, de um grande psicanalista , que ninguém é responsável pelo equilíbrio do outro.Que o interior despenca em virtude de nossos próprios atos.Somos reponsáveis absolutos pela manutenção de nosso equilíbrio.

Esta afirmação cisma em ficar em meus ouvidos, questionando-me até que ponto é verdadeira.

Por que de repente alguém tão zen dá um ataque?

É óbvio que sempre seremos os principais responsáveis por nosso equilíbrio, mas que distribuo algumas e muitas responsabilidades por ai, em desequilíbrios, distribuo sim.

Caetano Veloso, em plena fase antiamericanista resolveu gravar um cd de standards, que vai de Cole Porter a Nirvana, de Gershwin a Steve Wonder.

“A foreign sound”.Música estrangeira.Música de gringo?Música tem pátria?Tem raça?Tem cor?

Música tem origem. Feita para os ouvidos.O público:- O mundo.

Fato é que Caetano em plena época de ódio geral por Bush, resolve lançar seu cd com toda pompa no Carnegie Hall, coração de NY em abril de 2004.

Em novembro de 2001, o compositor participou de uma brincadeira com o grupo Los Hermanos na MTV, brasileira.Com sua irreverência colocou uma barba no palco.

A banda dos Hermanos brincou dizendo que ele estava à cara do Bin Laden.Caetano rindo, afirmou que Laden era até bem bonitinho, e lembrava muitas pessoas de sua família.

Ah Caetano! Que vacilo seu em brincar, pois entender fina ironia é privilégio de alguns apenas.O negócio atualmente é tentar esculhambar com a arte e com quem está se sobressaindo pelo talento, aliás, vou mais além, esculhambar por esculhambar, nem precisa ter arte.

Não sou nada perto de você Caetano, absolutamente vinte zeros a esquerda perto de um Veloso grandioso, mas se eu falar que tenho um primo parecido com o Beira Mar, estou frita.Passo a endossar imediatamente o crime organizado.

Fato é, que a Internet veiculo rápido de comunicação, usou e abusou da imagem do talentoso artista e ainda colocou palavras em sua boca.De repente Caetano era um partidário do al Qaeda.Circulou daqui, circulou de lá,e acabou parando como manchete do Jornal O Globo.

Nosso excepcional talento, precisou justificar-se mundialmente aos fãs e mostrar que não é incoerente.É apenas gente.

Sábado agora, dia 17 de abril de 2004, Caetano escreveu uma carta ao Globo.

“ Falsos escândalos que podem resultar em verdadeiros pesadelos”

Nele Caetano explica que não teve visto algum negado para entrar nos Estados Unidos..Passou pela burocracia rígida, porém comum, que qualquer cidadão atualmente passa, para entrar e permanecer em USA.

Nesta carta, Caetano protesta contra a temeridade da brincadeira , que quando insistida passa a soar como verdadeira."Um porre" aqueles que não sabem parar de brincar. Uns inconvenientes.

Volto ao inicio de minha reflexão.

Será que ninguém é responsável pelo equilíbrio do outro?

Pelo equilíbrio talvez não.

Mas pelo desequilibro tenho absoluta certeza que sim.

Não sou Caetano Veloso, mas ando de saco cheio de brincadeiras de mau gosto, que dentro de meu limitado mundo, bota limitado nisso, podem parecer verdades.

Não tenho poder algum para usar o Globo para mandar os brincalhões maldosos se retratarem.

Tenho apenas minha palavra.Por vezes não entendida.Será que sou uma foreign?


CD "a foreign sound"/Caetano Veloso.

O show? Foi um show em NY.

Rio de Janeiro 19 de abril de 2004.
publicação em:
Chocolate com pimenta/ rosapena

Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 20/11/2004
Alterado em 31/10/2008
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