República afetiva
Rosa Pena
Eu engatinho no verbo amar e tropeço por vezes na segunda pessoa. Flexiono o meu amar com alguns enganos e tento aprender contigo a te conjugar da forma perfeita como tu me conjugas. Ainda em alfabetização, sou como recém -borboleta com resquícios de larva e sobrevôo quase cega jardins cobertos de capins em busca de flores, brigando até com colibris doutorados em beijos e eu sequer sou em português. Arrisco minhas novas asas por um cheiro teu.
Eu fico entre o
te e o lhe amo no barulho dos congestionamentos dos finais das tardes, no silêncio das madrugadas, no azul que vem do céu e cisma em parar nos lugares onde estiveram teus olhos que eu chamo de meus.
Eu
te e lhe amo ainda menina, extasiada com tuas palavras, encantada com o tom da tua voz e as descobertas das tuas mãos deslizando em meu corpo. Eu
te e lhe amo ainda minúscula e balbucio teu nome com tantos erros de pronomes, mas sem erros de língua quando te lambo de A até Z!
Eu lhe amo, Eu te amo, I love You, Ti amo, Je t'aime, Bahibak em libanês. Eu te e lhe amo bem certo em carioquês! Ainda aprendo a te amar maiúscula, como tu me amas na escrita correta de teu coração. Ou já nos amamos sem pontuação, sem erros de ortografia, sem pronomes bastando só e apenas nossos nomes?
Viramos dialeto de um povo que o Estado é de dois. Eu e você.
Presidente e primeira-dama ou apenas artesãos no ofício de amar. Me dá a tua mão e consagramos uma nova nação onde o dicionário é produto ordinário perto de nossa paixão.