Descaso
Rosa Pena
Pena que a rotina dos dias muitas vezes nos tampe os olhos. Se me perguntarem das flores em minha varanda... Nem sei se floriram. Aliás, nem sei quando foi à última vez que reguei, que podei. Foi na época correta? Cuidei como deveria? É, digo que tenho pouco tempo e passo rapidamente pelas coisas que realmente encantam a vida. É velho dizer que só se dá valor quando se perde, mas é infinitamente mais velho o ser humano repetir esse erro.
Minha orquídea morreu, só vi hoje. Ficou no sol por semanas, depois tomou água (alucinadamente) para compensar. Droga! Eu gostava demais do jeito dela, da beleza roxa que iluminava minhas manhãs.
Neste momento estou revolvendo a terra para tentar que ela renasça. Talvez sim, talvez não.
Se renascer, não será jamais como a antiga. Quem sabe ficará até mais bela, mas não será mais ela. Estará com o estigma do “S.O.S” que damos depois do descaso.
Assim acontece com os amantes e com os amigos. Por vezes esquecemos de molhar a alma deles com sorrisos e lhe dedicamos apenas a secura do agreste de nossos corações. De repente a gente os inunda com nossas lágrimas fora de hora. Deslembramos da vez deles. Matamos o amor por ausência ou por excesso.
Por mais que se revolva o passado, sabemos que dificilmente brotarão as mesmas flores, principalmente aquela margarida com tom de intimidade ou a bela orquídea banhada de cumplicidade.
Saudades da minha flor roxa original.
2003
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 29/07/2009
Alterado em 26/01/2010