imagem:Alberto Alves
entre avencas e pica- paus
Rosa Pena
O nome dele ninguém sabe e talvez nunca venhamos a saber. Marceneiro de mão cheia que tem uma oficina imunda numa casa de cômodos que sempre vive aberta, cheia de madeiras, tralhas e viciados em zoologia. Conhecido como Pica- Pau. Magrinho de cabelos ralos e brancos. Eu sempre o chamei de "Seu" Pica- pau em respeito a idade que suponho que tenha, fato que o fazia sorrir e a quem por perto estivesse. Vivia com o cigarro na boca mexendo no seu carro velho, todo ferrado, mas que ele amava. Droga! Não sei se uso tempo passado nessa conversa. Adora se engraçar com as domésticas popozudas da rua. Com as moradoras do pedaço era respeitador ao extremo. Fez uma cama oriental para minha filha, depois uma mesa linda para mim. Eu diariamente o via quando ia para ginástica. Mais de vinte anos vendo ele e cumprimentando todos dias. Usei presente e passado nesse parágrafo!
Que droga de concordância!
Ontem o procurei, pois minha filha quer umas prateleiras para seu novo lar. Não estava lá. Perguntei ao anotador do jogo do bicho que também mora na casa que abriga o zoológico no papel e ele disse que o Pica- Pau teve um AVC e está internado tem mais de quinze dias na UTI do Hospital do Andaraí.
—Quinze dias? Como pode ser se eu sempre o vejo? (Vejo?!) Vai viver?
—Talvez.
Eu o enxergava como enxergo a farmácia da esquina. Só quando preciso.
Será que ele é casado, tem filhos, tem INSS, vai ficar com sequelas? Será que as respostas mudariam em alguma coisa a minha vida?
Não sei o nome dele, nem o da farmácia, mas sei tudo sobre minha avenca. Eu a coloco na sombra todos os dias e nunca permito que fique encharcada. Ah!Eu jamais esqueço dela!
entre avencas e pica- paus
Rosa Pena
O nome dele ninguém sabe e talvez nunca venhamos a saber. Marceneiro de mão cheia que tem uma oficina imunda numa casa de cômodos que sempre vive aberta, cheia de madeiras, tralhas e viciados em zoologia. Conhecido como Pica- Pau. Magrinho de cabelos ralos e brancos. Eu sempre o chamei de "Seu" Pica- pau em respeito a idade que suponho que tenha, fato que o fazia sorrir e a quem por perto estivesse. Vivia com o cigarro na boca mexendo no seu carro velho, todo ferrado, mas que ele amava. Droga! Não sei se uso tempo passado nessa conversa. Adora se engraçar com as domésticas popozudas da rua. Com as moradoras do pedaço era respeitador ao extremo. Fez uma cama oriental para minha filha, depois uma mesa linda para mim. Eu diariamente o via quando ia para ginástica. Mais de vinte anos vendo ele e cumprimentando todos dias. Usei presente e passado nesse parágrafo!
Que droga de concordância!
Ontem o procurei, pois minha filha quer umas prateleiras para seu novo lar. Não estava lá. Perguntei ao anotador do jogo do bicho que também mora na casa que abriga o zoológico no papel e ele disse que o Pica- Pau teve um AVC e está internado tem mais de quinze dias na UTI do Hospital do Andaraí.
—Quinze dias? Como pode ser se eu sempre o vejo? (Vejo?!) Vai viver?
—Talvez.
Eu o enxergava como enxergo a farmácia da esquina. Só quando preciso.
Será que ele é casado, tem filhos, tem INSS, vai ficar com sequelas? Será que as respostas mudariam em alguma coisa a minha vida?
Não sei o nome dele, nem o da farmácia, mas sei tudo sobre minha avenca. Eu a coloco na sombra todos os dias e nunca permito que fique encharcada. Ah!Eu jamais esqueço dela!
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 21/04/2009
Alterado em 13/04/2022
Alterado em 13/04/2022
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Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.
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