Maldita net

                       Rosa Pena



José, cedo, lá pelas sete da manhã de um sábado chuvoso, bate à porta do quarto do filho.
— Ô Cavalão, levanta, já são quase dez, estou em pé desde as seis.
O filho levanta, vai ao banheiro, fica no máximo dois minutos e ouve o berro:
— Morreu aí dentro? Tem mais gente nessa casa. E olha o papel higiênico!!! Máximo de três voltas na palma da mão. Só eu penso nessa casa???
Anda de um lado para o outro e vai até a cozinha perturbar a mulher.
— Janilce, fecha a porta da geladeira que ela não é TV para você ficar olhando. Não sou sócio da Light.
Senta na varanda esperando o banho da vizinha. A danada fica peladinha a esta hora. Gostosa!!! Tesuda!
— Se eu pego essa mulher, sei não, sei não!
— Janilce baixa este som. Que música diabólica é essa? Aprendeu isso na maldição???
No almoço:
— Teu pai também come carne, viu cavalão?
No mercado...
Levando o carrinho com duas caixas de cerveja, oito quilos de filé, dois sacos de carvão para o churrasco da turma do bar. De longe dá uma espiada no filho e grita:
— Devolva o Bis, acha mesmo que tenho dinheiro para isso???
Vê a esposa, a Janilce, comprando leite:
— Está criando bezerros lá em casa?
Vai à parte de bebidas, compra mais quatro garrafas de pinga e grita para a família que está no final do corredor:
— Nada de pegar Tang, ainda tem um Nutrinho na geladeira.
E vamos rápido, pois tenho que preparar meu discurso sobre malefícios da internet. Ela tira a harmonia de qualquer família. Ainda bem que vendi o micro.



2004
PreTextos

Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 07/05/2005
Alterado em 03/10/2008
Copyright © 2005. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.





Site do Escritor criado por Recanto das Letras
art by kate weiss design