Subjetividade 

                               Rosa Pena 



              “Os que fazem da objetividade uma religião, mentem.
             Eles não querem ser objetivos, mentira: 
                  Querem ser objetos, para salvar-se da dor humana”. 
                      Eduardo Galeano


Não existe amor assim? Sou poeta. Criei um para mim. 

Não é amor de buffet classe A, com o vinho correto e a toalha de linho.
É amor de botequim, onde o chope vem bem gelado e você ainda pode gritar: -Coloca muita pressão! A mesa é sem toalha, nua, sem disfarce algum. Não é amor de cinema americano, onde as orquídeas chegam com hora marcada junto com o anel de brilhante. É fita made in Brasil, onde no meio da seca nasce uma flor safada que desafia o tempo, escolhida para ser a margarida da amada. Não é amor de cão com pedigree, que ganha competições. É amor vira-lata que se finge de morto para ganhar um toucinho, medalha maior e melhor para ele e não para as paredes do orgulho. Não é amor telegrama. É amor com envelope e selo, colocado com a saliva do zelo. Não é amor que cabe em latinha de refrigerante. É amor em garrafa pet, em que se bebe no gargalo do primeiro gole até o fim. Não é amor de grinalda e canto gregoriano. É amor de sandália havaiana ao som de Tom Jobim. Não é, porém, amor só de versos e reversos. É amor que se cala para ouvir dois corações que se tocam, brindando a ternura e as rimas, eterna sina do trovador. 

                                 Tintim! 




                       01/5/2006 


Foto por:Ricardo Machado

Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 02/05/2006
Alterado em 30/09/2008
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