Irmãos de Criação
Rosa Pena
Um amante vai ser a solução. Não queria ser Dona Lúcia, tia Lúcia...Queria voltar a ser Lucinha. Quarenta anos não é idade da loba? Propaganda enganosa. Virou ovelha.
Nega-se a ouvir arrotos e sentir cheiro de pum, banais depois de tanto tempo de convivência e por vezes dados com cara de orgulho pelo parceiro.
Queria um cara, que, ao olha-la ficasse doidão, querendo dançar apertadinho, roçar, lamber sua orelha. Queria muitos beijos de língua ainda. Muitos, muitos, muitos...
Não queria sexo como evento feito só em sete de setembro ou finados.
Abominava as frases frutos da intimidade de mil anos de relação, que não lhe dão (algum dia deu??!) tesão:
— Senta aqui no colinho do papai.
Ah! Banhos de prosseco e secagens com a língua. Bis sem ter que induzir, pior, pedir.
Dormir agarradinha e ser acordada de madrugada, quase assustada, com aquelas mãos esquecidas em suas coxas. Usar gola role para tampar os roxos do seu pescoço. Comer uma lasanha às quatro da matina para repor as calorias perdidas, e recomeçar tudo de novo na cozinha mesmo.
Chegar em casa de manhãzinha sem calcinha, pois ela foi dada de brinde.
Passar o dia assustada, olhando o celular, esperando torpedos chamando-a de gostosa. Imaginar que o seu samba enredo vai estar na garagem, pronto para lhe dar um “pega” entre os carros, quase na cara do porteiro.
— Dona Lúcia, desculpe interromper o seu descanso. Estava sonhando acordada? O auditório continua aplaudindo. Volte para agradecer. Foi um sucesso este seu seminário de autoajuda: — “Sem complexo, vivemos sem sexo” — perfeito para casamentos em crise. Demais esses encontros de casais, para uma tomada de consciência. Bom que saibam que é normal depois de anos juntos, virem apenas Irmãos de criação.
Não são as rugas que a incomodam. São as suas fantasias!
2003
PreTextos/ livro de rosapena
Nega-se a ouvir arrotos e sentir cheiro de pum, banais depois de tanto tempo de convivência e por vezes dados com cara de orgulho pelo parceiro.
Queria um cara, que, ao olha-la ficasse doidão, querendo dançar apertadinho, roçar, lamber sua orelha. Queria muitos beijos de língua ainda. Muitos, muitos, muitos...
Não queria sexo como evento feito só em sete de setembro ou finados.
Abominava as frases frutos da intimidade de mil anos de relação, que não lhe dão (algum dia deu??!) tesão:
— Senta aqui no colinho do papai.
Ah! Banhos de prosseco e secagens com a língua. Bis sem ter que induzir, pior, pedir.
Dormir agarradinha e ser acordada de madrugada, quase assustada, com aquelas mãos esquecidas em suas coxas. Usar gola role para tampar os roxos do seu pescoço. Comer uma lasanha às quatro da matina para repor as calorias perdidas, e recomeçar tudo de novo na cozinha mesmo.
Chegar em casa de manhãzinha sem calcinha, pois ela foi dada de brinde.
Passar o dia assustada, olhando o celular, esperando torpedos chamando-a de gostosa. Imaginar que o seu samba enredo vai estar na garagem, pronto para lhe dar um “pega” entre os carros, quase na cara do porteiro.
— Dona Lúcia, desculpe interromper o seu descanso. Estava sonhando acordada? O auditório continua aplaudindo. Volte para agradecer. Foi um sucesso este seu seminário de autoajuda: — “Sem complexo, vivemos sem sexo” — perfeito para casamentos em crise. Demais esses encontros de casais, para uma tomada de consciência. Bom que saibam que é normal depois de anos juntos, virem apenas Irmãos de criação.
Não são as rugas que a incomodam. São as suas fantasias!
2003
PreTextos/ livro de rosapena
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 27/04/2005
Alterado em 23/03/2014
Alterado em 23/03/2014
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Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.
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