Em busca da palavra certa

Rosa Pena



Em se tratando do mundo virtual, necessário se faz a busca da palavra certa, para dar a exata noção da mensagem que se enviou. Não contamos com os recursos do “ao vivo”, não temos o gestual, o sorriso que ameniza a dureza de uma palavra, ou aquela piscada de olho que desmente a seriedade do que foi dito — afinal não era tão sério.
Essa busca, por vezes, exaure quem escreve, pois sempre fica a sensação de dúvida: “será que meu destinatário vai sacar exatamente o que eu quis dizer?”
Diferenças regionais devem ser levadas em conta. A palavra sacana, por exemplo, aqui no Rio, difere de outros lugares. Lembro bem que um amigo do interior dos confins ficou ofendidíssimo com um “sacana” meu. Lá, sacana só é usado para atividades sexuais.
E quando se trata de sexos opostos? Preocupados ficamos em demonstrar ao poeta homem que o beijo enviado era um beijo amigo, beijo sem assédio. Ele idem... Estou me lembrando de um poeta muito lindo, que sempre que o formatava enviava um obrigado, um recado... “Eu te adoro”, e no final... “Cordiais saudações”. Necessitava demonstrar respeito.
E se queremos ajudar alguém, avisando de um erro? Nossa! Mede-se vinte vezes a forma de dizer. Inúmeras vezes a franqueza é vista como grosseria... (vista quer dizer lida). Mais vezes ainda, o elogio soa como puxa-saquismo.
Ao vivo, permito-me ouvir Caetano vinte vezes, mas no virtual não posso mandar sequer quatro vezes seguidas um poema, pois soa como algo estranho. Algo do tipo... “esse santo quer reza”.
Da mesma forma que aqui o “eu te adoro” sai rápido, a mágoa também surge com muita velocidade. Ama-se e magoa-se em ritmo de Fórmula-1. Sentimentos contraditórios
surgem a todo momento. E-mails não respondidos levam a milhares de interpretações. Afinal, eu enviei um elogio e ninguém disse nada... Afinal, eu demonstrei carinho e nunca soube se foi recebido... Afinal... Afinal! O meu poema lindo não foi lido! (frustração) O site com poucas visitas! Puxa, deu um trabalhão!
Ainda existem os fantasmas — aqueles que somem sem avisar e aparecem da mesma forma — que me deixam angustiada. Devem te deixar também. Não me refiro àqueles que agem de má-fé no virtual. Os fantasmas loucos que criam personagens por não conseguirem suportar a si próprios, que se autoboicotam. Esses, rapidamente percebemos e não possuem valia. Ignoro-os.
Refiro-me a nós, pessoas comuns, vivas e ativas, educadas, de bom senso, inteligentes e elegantes no escrever. Na maioria de boa índole, mas de particularidades próprias, individualidades por vezes discutíveis por outrem. Normais para nós mesmos, diferentes para quem lê.
Deves sentir o que sinto. Dúvidas e expectativas. Quais as palavras que vão realmente exprimir meus reais sentimentos?
Agora, neste momento, me questiono... como será interpretado o que acabei de escrever?


2002

livro: Eu & a net

 

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Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 27/04/2005
Alterado em 09/07/2008
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