No divã com o Ver!ssimo

Rosa Pena


 


O consultório era Freudiano com um divã de 200 anos.
O psiquiatra a cara do Veríssimo. Ele não tentou em nenhum momento me deixar à vontade, daí eu é que tentei deixá-lo.
-
Você lembra demais o...
-Já sei quem vai dizer, falou de cara amarrada!
-
Eu deito no divã?
-
Vamos sentar.
-
No divã com o Veríssimo daria uma boa crônica.
-
Nas cadeiras, por favor.

Frente a frente com o pseudo Luis Fernando, ele quieto. Psiquiatras acham que nós é que temos que falar. Então tá.
Pergunto pela crônica Sala de Espera do livro Comédias da vida privada.
Ele me olha fixo e responde bem devagar: 
— Eu - nãooooooooooo – sou – o - Veríssimo.

Eu olho para ele fixo e respondo bem depressa:
-
Issoeujásei!

Volta o silêncio. Acho que ele espera que eu diga os motivos de minha depressão, pois ele sabe que fui lá por causa disso, foi avisado que me sinto num escafandro e não vejo a borboleta já vai pra três meses. Se eu soubesse os motivos tomava um prozac e não estaria deixando lá mais duzentos paus. O analista anterior me mandou tocar tambor. Fui obrigada a avisá-lo que não sou o menino que se rebela contra os adultos e o sistema.
O tempo passa e percebo que depois do Bruno, meu analista durante dez anos, que para meu inferno faleceu, mais nenhum vai conseguir que eu fale o motivo deu querer isolamento. Dessa vontade imensa de virar escafandrista uma vez por ano.

Num aguento mais ficar ali calada olhando pro clone do Veríssimo, então digo a primeira frase que me veio à cabeça.
-
Estou sem identidade.
-
Ahã...(Percebo nele uma expressão de contentamento pós-caipivodka na praia).
-
Está procurando-a aqui?
-
Não mesmo, pois é minha primeira vez que piso aqui.
-
E?
-
Vou ter é que tirar outra via.
-
Você quer se refazer como uma nova pessoa?
-
Não! Só não quero que uma patrulhinha me pegue sem documentos.

A partir dali ele receitou risperidona e me deu tchau. Li na bula para que serve: transtornos de comportamento, agressão verbal, humor elevado e etc. e tal.


depois a louca sou eu. Que estresse só porque o achei a imitação mal-humorada do Luis Fernando. Diante desses bizarros doutores estou quase curada Veríssimo, apesar de ainda não ter visto a borboleta.

Acho que com um bom vinho vejo, pelo menos, uma lagarta. No tempo certo ela voa!

 

 

 

Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 16/09/2008
Alterado em 03/08/2012
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